PESQUISAR NO TITANICFANS
domingo, abril 30, 2006
Para Richard Barks tudo aquilo não passava de recordações, que a humanidade teimava em relembrar-lhe todos os dias da sua vida... Uma voz narrava o documentário: «Nada na terra se comparava ao Titanic... Ao anoitecer de uma noite quente londrina de 1907, uma elegante limunisa Daimber Mercedes Benz parou diante de Downshire House, a residência de Lord Pirrie presidente dos estaleiros Harland & Wolff. Era uma casa branca, imponente, que recebia os seus convidados com solenidade. Na parte que dava para a rua havia um pórtico com oito colunas dóricas e no centro do piso superior uma janela dividida em três secções rematada com um lindel com tímpano. Situava-se no elegante bairro londrino de Belgravia.
O motorista de uniforme saiu após estacionar e apressou-se a abrir a porta para ajudar a sair os distintos convidados, o senhor e a senhora Ismay. Tanto para Joseph Bruce Ismay como para a sua esposa Florence sabiam que não se tratava de um simples jantar, estava programado algo mais importante, algo especial, que se notava na receptividade do casal Pirrie. Na verdade iam falar de negócios...
Ismay - Claro que a Cunard teve subsídios do governo.
Pirrie - O navio deles quebrou o record de travessia do Atlântico. Como sempre disse, Bruce, a velocidade não é tudo...
Ismay - Mas compreendes porque razão a White Star terá de responder...
As duas damas deixaram os homens sós para que estes se deliciassem com um charuto e uma taça de brandy após o jantar, iam falar do grande projecto que Lord Pirrie mantinha em segredo e que finalmente revelaria ao seu amigo Bruce. os dois estavam no salão de jogos da casa a jogar bilhar.
Pirrie - Esta perseguição da velocidade é fútil, os custos não compensam. Se as pessoas querem dimensão dar-lhe-emos dimensão.
Ismay - Queres que seja tão grande como o Mauritânia?
Pirrie - Não, que seja o dobro! O maior navio que o mundo já viu!
Ismay - Para competir com a Cunard vamos precisar de dois navios.
Pirrie - Para os ultrapassarmos vamos precisar de três!
Pirrie mostrou-lhe um esboço do que ia na sua mente, da forma como os navios deveriam ter no final da construção. Os navios iriam ser construídos em Belfast e para isso Lord Pirrie contava com a colaboração do seu cunhado Alexander Carlisle como engenheiro chefe que iria desenhar os navios, Roderick Chisholm como chefe dos desenhadores e o seu sobrinho Thomas Andrews que estava a ser preparado para assumir a chefia da empresa. Em Julho de 1908 o projecto finalmente estava pronto, os quatro membros esperavam a chegada de Ismay:
Ismay - Tem quatro chaminés...
Roderick - Correcto.
Ismay - Mas tinham afirmado que só teria três motores.
Carlisle - Pirrie pensa que estes navios serão mais eficientes com apenas três motores.
Pirrie - Como sabe quanto mais chaminés tiver o navio mais vontade terá o público pagante de viajar nele.
Andrews - A Cunard construiu o Mauritânia e o Lusitânia com quatro.
Ismay - Então uma das chaminés é apenas ornamental...
Roderick - Exacto, senhor.
Ismay - Acho que é magnífico. Quando poderão começar?
Pirrie - Podemos começar a trabalhar no navio 400 dentro de alguns meses e no 401 logo a seguir.
Ismay - Então será melhor assinar o contrato.
Roderick - Faça favor.
Ismay - Agora vão precisar de nomes. Não podemos continuar a chamar-lhes 400 e 401.
Pirrie - Concerteza, já que o 400 é o primeiro da classe, vamos chamar-lhe Olympic.
Ismay - Concordo. E o 401?
Pirrie - É o seu navio, Bruce.
Ismay - William, conhece a mitologia. O Olimpo era a casa dos Deuses gregos, é verdade. Mas então e os seus maiores rivais? Os Titãs? Eram gigantes cada um deles. O companheiro do Olympic deverá ser o Titanic!
Pirrie - Muito bem. Nunca houve um navio com nome tão apropriado.
Ismay - Olympic e Titanic!
Olympic e Titanic... mais tarde o terceiro dos irmãos seria inicialmente batizado de Gigantic.»
Não percam a continuação amanhã com mais dois posts especiais.
sábado, abril 29, 2006
Mellissa - Já temos imagens do navio no fundo do oceano...
Uma imagem escura deu então lugar a uma forma esverdeada, ao que parecia ser a proa do navio... Ouviam-se as comunicações entre os mergulhadores a bordo dos submersíveis.
- Virem um pouco à vossa direita... Perfeito! Olhem para aquilo! Estão a ver?
- Sim é o Titanic! Vejam só, é o Titanic.
- Ok, vamos passar pela proa em direcção ao convés e entrar pela fenda para chegarmos à sala das máquinas.
Melissa - São imagens em directo... Dizem os especialistas que se o Titanic tivesse batido de frente provavelmente não se teria afundado, isso é verdade senhor comandante Clambes?
Clambes - Bem, possivelmente teria feito alguns danos sérios mas ter-se-ia aguentado a flutuar. Mas concerteza que nestes casos só por milagre não haveriam perdas humanas a lamentar. Provavelmente os homens que dormiriam naquela zona mais a vante do navio teriam perdido a vida... mas isso serão sempre hipóteses...
Mellissa - Aliás especula-se muito sobre as várias hipóteses do que teria acontecido com certos passageiros em determinadas situações, o senhor Ducan como historiador, deve saber inúmeras histórias, como por exemplo, sobre os portões de terceira classe terem sido fechados... senhor Ducan, até onde poderemos separar a verdade da ficção? O que aconteceu de verdade?
Ducan - Numa situação como aquelas e de acordo com testemunhos alguns portões sim foram fechados, mas outros vêm contradizê-lo dizendo que não, que foram formados grupos que os deslocaram até ao cimo da coberta dos botes. Esperamos saber isso mesmo hoje nesta expedição...
Melissa - Senhor Richard, concerteza sabe do que estamos a falar pois viveu melhor do que ninguém estas situações uma vez que esteve no Titanic. Gostaria de nos contar um pouco da sua experiência a bordo do Titanic?
Os olhos brilharam, um número infindavel de imagens passavam-lhe pela mente, não era nada que nunca o tivesse acompanhado durante os seus 98 anos de vida... estava-se em silêncio... ouviam-se os comunicadores, as imagens do navio no fundo do mar apareciam, mas nada daquilo o fazia temer, e resolveu começar a falar.
Richard - A família da minha mãe vivia em Londres. O meu pai tinha muitos hotéis, lojas e casas. Houve uma descida de valores e decidiram expandir o negócio para Seatle na América onde tinhamos um tio da minha mãe a viver. Viajavam sempre todos juntos em primeira classe para onde quer que fossem. O meu pai, a minha mãe, a minha irmã, iamos todos para Seatle. Não era suposto embarcarmos no Titanic. Tinhamos reserva noutro. Mas devido à greve dos mineiros do carvão a nossa passagem foi cancelada. Telefonaram ao meu pai e disseram que havia uma vaga ou uma cabina em primeira classe no Titanic...
As lembranças de Richard retornaram a 1912, estava agora com apenas 12 anos, era loiro, olhos azuis, típico menino nórdico de boas famílias inglesas... estava em casa com os pais a avó e a irmã ainda bebé... O telefone tocava...
Camille - ... está a sorrir para o Richard...
James - Senhor Barks, telefone para o senhor.
George - Disse quem era?
James - De uma companhia de navios, disse ser muito importante.
George - Sim?
- Estou sim, muito boa tarde. Fala da White Star Line, estamos a falar para casa do senhor George Barks?
George - Sim, fala o próprio.
- Sr. Barks, temos uma vaga no Titanic, querem ocupá-la?
E ele, claro, ficou agarrado ao telefone, atirou-se ao ar e disse que sim. Veio e disse à minha mãe:
George - Vamos na primeira viagem do Titanic!
Ele estava encantado, que sorte, não era?
Amanhã não percam, tem mais TITANIC...
sexta-feira, abril 28, 2006
George - E então?
Camille - Parece-me bastante luxuoso...
Richard - Pai, mãe! Olhem ali!
George - Vejam só! É mesmo. O nosso navio.
John - Amanhã vamos passear dentro dele.
Harriet - Minha filha, esta é a Dorothy...
Todos olharam para a minha avó...
Harriet - O que há? Ter uma empregada que fale gaelico está na moda e além disso precisas de alguém que te ajude com o bebé, Camille.
Richard - Olá, Dorothy... estás nervosa?
Dorothy - Não, menino.
Camille - Não precisa de se sentir nervosa.
A minha mãe sorriu e aproximou-se da minha avó e disse-lhe baixinho...
Camille - Mãe... a mãe sabe que eu não queria mais ninguém, já bastou a situção que a outra empregada nos deixou. Eu podia suportar bem os meus filhos...
Richard - Vamos amanhã no Titanic!
Camille - É verdade. Embarcamos amanhã para Nova Iorque e depois para Seatle.
Harriet - A nossa empregada deixou-nos numa situação difícil, temos o bilhete dela disponível. Dorothy, gostaria de vir connosco no Titanic?
A jovem sorriu e disse
Dorothy - Sim, minha senhora, este emprego é tudo o que eu mais anseio.
Camille - Então, está cheia de sorte. Tem referências?
Dorothy - Tenho sim, minha senhora.
Harriet - Ela trabalhou para os Iversons. Não poderia ser melhor.
Camille - Então está admitida. Esta noite vamos assistir ao espectáculo de Adeline Gené. Vamos ter que sair, mas vou deixar-lhe as indicações da hora que as crianças devem comer as refeições... Vai ver que vai gostar de ficar connosco...
Eu estava com o meu tio John na varanda da suite e não tirava os olhos do Titanic que agora estava todo iluminado à medida que o Sol se punha. A partida era já no dia seguinte.
No próximo capítulo o Titanic partirá para a sua viagem inaugural... brevemente.
A minha mãe teve um pressentimento. Quando o meu pai disse à minha mãe que o navio era inafundável ela retorquiu:
Camille - Este é o Titanic?
George - Sim, minha querida. O maior navio da História, o mais bonito e luxuoso! Nem Deus consegue afundá-lo. É inafundável.
Camille - Então isso é um desafio a Deus... É como voar perante Deus.
Foram estas as palavras dela. Naquele tempo tinha-se a ideia que o Titanic era insubmergível, ele foi construído para ser superior à Natureza e a Deus. Desde o início que ela sabia que havia algo a recear.
A minha mãe tinha de falar com o comissário de bordo para registar a bagagem e ela disse-lhe:
Camille - Sabe, não estou nada satisfeita por ir nesta viagem até Nova Iorque.
E ele disse:
- Porquê?
E ela disse:
Camille - Porque é a primeira viagem que ele vai fazer.
Ela disse que se sentia um pouco nervosa por isso.
- Minha senhora, não tem que ter medo de nada. Sabe que o Titanic tem compartimentos estanques e se acontecer alguma coisa, esses compartimentos estanques vão aguentar o navio até virem socorros.
Richard - Tem pista de squash, um café parisien… até banhos turcos!
George - Vamos embarcar então? Mais um passo.
Harriett - Dorothy, as suas acomodações são em terceira-classe, terá de se dirigir à outra entrada. Encontramo-nos depois, minha querida.
George - Por aqui, senhoras.
O meu pai seguiu à frente com o meu tio. Passamos por um jovem rapaz bem vestido com uma camera montada num tripé, era Daniel Marvin cujo pai fundou a Biograph Film Studio. Ele estava a filmar a sua jovem noiva Mary Marvin diante do Titanic posando e sorrindo.
Daniel - Olha para cima para o navio, querida, isso mesmo. Estás espantosa! Nem consegues acreditar como ele é grande! Uma montanha. Está perfeito.
Eles também iriam embarcar no Titanic em primeira-classe. Desde o primeiro momento, ao pôr-se o pé na passagem de acesso, tinha-se a sensação de entrar num mundo mágico. Os cheiros, as luzes, a decoração, o cheiro a bolinhos de canela... O pessoal de bordo orgulhoso no seu uniforme de botões dourados esperava sorridente, pronto a acompanhar todo o recém-chegado naquela cidade flutuante.
- Bem-vindos a bordo, senhores.
- Bem-vindos ao Titanic.
A minha mãe estava completamente transtornada. Quando embarcámos o meu pai disse-lhe:
George - E agora de que tens medo?
E ela respondeu:
Camille - Não sei de que tenho medo. Mas sei que não me vou deitar neste mavio. Durmo de dia e fico acordada de noite.
Música: Bon Voyage - Albúm: Oceanic - Compositor: Vangelis
Amanhã a partida do navio e o surgimento de novas personagens...
Edward - Malditas leis americanas, meu caro...
- É o meu destino... aquele navio é o meu destino! A América espera por mim! Um novo-rico! Não me façam isto, por favor!
Edward - É a arrogância de classes, e nós ficamos aqui, a vê-lo partir... Sou Edward Roger.
- Thomas Dikinson...
Edward olhou para o homem que estava estendido no chão, o bilhete estava quase caído do bolso do casaco, bastava um pequeno toque e a passagem podia ser sua sem ele dar por nada.
Edward - Vamos lá senhor Dikinson, levante-se, tem de tomar um copo de rum para animar!
Bastou ajudar a levantar o senhor Dikinson para colocar a mão no bolso e ter o seu bilhete para casa.
- Obrigado, meu jovem. Venha daí.
Edward - Não não não, na verdade eu não bebo.
- Nem sequer um vinho?
Edward olhou para o relógio, era 11h45, ainda tinha de passar pela inspecção médica.
Edward - Nem sequer isso. Na verdade tenho de ir. Muito gosto em conhecê-lo Sr. Dikinson. Rápidas melhoras. E lembre-se, a América espera por si!
Edward não podia perder mais tempo. Correu para a plataforma onde estava o médico de bordo.
- Hey, hey, hey! Onde pensa que vai com tanta pressa, rapaz?
Edward - Sou... Thomas Dikinson, peço desculpa pelo atraso.
- Vamos lá, baixe a cabeça... olhos, a boca... Americano?
Edward - Sim, sim, vou para casa... para a terra da liberdade, para a terra dos hot-dogs! A bordo do Titanic!
- Entre lá...
Edward - Obrigado. Meu Deus, que sorte a minha, nem acredito!
Depois de superada a prova, Edward mostrando os dentes serrados diz para todos à volta:
Edward - Sou ilustre!
O marinheiro Rowe recebe o bilhete e fica verificando o nome na lista, e Edward foi então conduzido até ao seu camarote. Deixou o saco da roupa e correu para a popa do navio. Na primeira-classe a minha família e eu estavamos na nossa suite dupla. Os lanços de escada, os camarotes, as salas de diversão e os corredores eram ambientes únicos que não tinham equivalente em terra.
- Parece que vamos ter noites frescas e céu limpo durante a travessia. Mr. Barks!
George - Prazer em vê-lo, Harry. Vamos lá para cima?
Richard - Vamos pai!
Subir à coberta alta e poder assomar-se para ver o formigueiro de gente no cais dava imediatamente a ideia de uma nova dimensão. A terra tornava-se pequena, mas abriam-se os espaços ilimitados do oceano.
Amanhã tem novo episódio de Titanic.
quinta-feira, abril 27, 2006
A multidão que enchia o cais estremeceu e muita gente começou a andar ou a correr junto ao mar como que resistindo a deixar partir o enorme transatlântico. Pouco a pouco os rebocadores foram tirando o gigante do porto. O Titanic estava já em condições de começar a navegar com os seus próprios motores e foi ganhando velocidade sob o impulso das hélices. Deixou para trás o cais 38 e quando acabava de passar o 39 sobreveio o primeiro mau presságio! Na parte exterior do cais estava fundeado o paquete New York e o Oceanic, navios de longo curso. A enorme sucção das hélices do Titanic e o vento que soprava fizeram com que os cabos que mantinham o New York amarrado esticassem ao máximo e cedessem com um rangido estrondoso. No meio de tiros de pistola e disparos de canhão, de repente o New York estava à deriva. Ao ver os seis pesados cabos saltarem pelo ar, a multidão que se tinha aglomerado no cais retrocedeu em pânico. A passagem do Titanic pelo pequeno canal fez com que o New York se soltasse das amarras e começasse agora a aproximar-se do Titanic em rota de colisão.
Para a semana, o desfecho desta partida agonizante e a inquietação de Camille Barks ao ver que na listas de passageiros se encontra o passageiro David Fraser. O que tem ele que a deixa tão inquieta? É o que vamos saber na próxima sexta-feira.
Eu estava na amurada de bombordo, onde tinha assistido ao incidente enquanto ainda permanecia sob os efeitos da impressão causada. Fiquei desconcertado e apreensivo por causa de uma breve conversa que mantive com um passageiro que eu não conhecia. Disse-me que tinha tido medo ao embarcar e ele sem se apresentar perguntou-me se amava a vida...
David - Eu sabia... eu fiquei com medo de embarcar neste navio... O menino ama a sua vida?
Richard - Sim, claro.
À minha resposta afirmativa ele disse-me:
David - Pois bem, o que aconteceu perante os seus olhos, meu jovem, foi de mau agúrio e o melhor que tem a fazer é sair do navio na próxima escala em Cherbourg.
Não dei nenhum crédito aquelas palavras, estava confiante como toda a gente na proclamada segurança do barco e na sua impossiblidade de se afundar. E após uns primeiros instantes de apreensão a estranha conversa foi imediatamente apagada do meu pensamento.
Camille - Richard! Richard! Vem cá. Com quem estavas a falar?
Richard - Um senhor de quem não sei o nome... sobre o incidente.
O meu pai virou-se e disse à minha mãe:
George - Isto é um mau presságio para começar.
E não disse mais nada.
As operações de navegação foram reatadas com normalidade. Southampton começava a distanciar-se... Quando passou pelo porto reservado aos navios da marinha de guerra britânica, o comandante Smith mandou arriar a bandeira, em sinal de saudação aos cruzeiros ali fundeados, que pareciam muito pequenos em comparação com o maior barco do mundo.
quarta-feira, abril 26, 2006
Harry - E aqui, as acomodações das crianças... Eu serei o vosso empregado durante a travessia, sempre que precisarem basta um toque na campainha e eu responderei ao chamado.
George - Obrigado, Harry.
Harry - Precisa de mais alguma coisa?
George - Não, obrigado.
Arthur - Onde ficam os coletes salva-vidas?
Harry - Por cima do armário guarda-vestidos, senhor. São oito, concerteza chegam de sobra para todos. Até para o cachorrinho...
George - Só vão ficar a ganhar pó, só ocupam espaço.
Harry - Mais alguma coisa?
George - Agora sim, pode ir.
Harry - Com licença.
Harriett - Dorothy, minha querida, ainda bem que chegou. Preciso que me ajude no guarda-roupa, está um caos. Estes marinheiros não tiveram cuidado nenhum... Minha Nossa.
Dorothy - Sim, madame.
Camille - A minha mãe... contratou uma ama para as crianças e é a ela que serve o tempo todo.
Uma das primeiras expectativas a satisfazer depois de embarcar era a leitura da lista de passageiros, que alguém fazia deslizar discretamente por debaixo das portas dos camarotes.
John - A lista de passageiros?
Camille - Posso dar uma olhada?
John - Claro... Vem ao tio, minha pequenina.
A minha mãe viu a lista por distração, ela começou por ler do fim para o início...
Camille - Os Widener, os Thayer, vem o filho deles o teu amigo Jack Thayer. A Condessa de Rothes... hum... só gente ilustre.
Ela foi passando as folhas dizendo alguns nomes, o jovem Washington Roebling, os idosos Strauss, o escritor Jacques Futrelle, até que de repente parou e disse baixinho...
Camille - Fraser...? Mr. David e Mrs. Hellen Fraser...
Richard - Algum problema, mãe? Está pálida.
John - Está tudo bem?
Camille - ... sim... sim, está tudo bem, foi só um enjouo.
Richard - Mas nem se sentem os balanços do navio...
Ela sorriu... Por esta altura já era hora de comer. Podia-se iniciar a vida a bordo. A angústia e a inesperada paragem no porto de Southampton ficaram para trás esquecidas.
Edward - Olá, tudo bem desde há pouco? Muito trabalho nos ricos?
Dorothy - Só desfazer as malas, os meus patrões aproveitaram para almoçarem juntos e deram-me tempo para tomar alguma coisa.
Edward - Sou Edward Roger.
Dorothy - Sou a Dorothy Smith.
Edward - Dorothy... Gostaria de vir tomar alguma coisa à sala de jantar?
Dorothy - Sim, fico grata de o ter como companhia.
Edward - Já fez alguma viagem por mar?
Dorothy - Não, é a minha primeira.
Edward - Eu fiz uma vez, vou de regresso a casa.
Dorothy - Voltar para a América? Eu vou viajar muito também, com os meus patrões.
Edward - O mar dá enjoos.
Dorothy - A sério? Sempre ouvi falar nisso. Nunca tinha entrado num navio.
Os ruídos e as vibrações das máquinas quase não se percebiam e, devido à grande massa do navio, praticamente não se notava o movimento das ondas. O navio continuava a avançar majestosamente. Embriagados de entusiasmo, os passageiros entretinham-se a descobrir todas as maravilhas daquele universo, onde era tão fácil perderem-se no labirinto de corredores e escadas. O tempo passava depressa e os camareiros não demoraram a entrar novamente em acção, desta vez para servir o chá. As amplas cobertas do transatlântico não tardaram a ficar cheias de passageiros impacientes por conhecer todos os segredos do navio e por usufruir até do último pormenor da mais luxuosa, calma e confortável das viagens. O Titanic já tinha avistado a costa francesa...
Musica - Movement IX - Compositor - Vangelis - Albúm - El Greco
Para a próxima semana o Titanic parte finalmente para o Atlântico.
terça-feira, abril 25, 2006
Molly - Toma lá, se fores capaz. Hey, Astor, tudo em forma?
Astor - Prazer em vê-la, Margaret.
Molly - Vemo-nos ao jantar.
Para muitos milionários e aristocratas, a viagem inaugural do Titanic foi um encontro obrigatório, uma oportunidade que não podiam deixar escapar. Entre eles estavam Edgar e Leila Mayer, os Strauss, Sir Cosmo e Lady Lucille Duff-Gordon, Guggenheim... Sir John Jacob Astor IV também embarcou acompanhado da sua segunda mulher e jovem esposa, Madeleine, com quem tinha casado à pressa por se encontrar grávida, o seu batalhão de empregados e com o seu fiel airedale Kitty. Era o homem mais rico a bordo. A sua fortuna estimava-se em 87 milhões de dólares. Este iria ser o principal tema de conversa ao jantar. Também subiram a bordo vários jornalistas franceses, desejosos de comprovar se tudo quanto se dizia da última jóia da White Star era verdade.
Camille - Estou pronta. Dorothy, dê de comer às crianças e nada de guloseimas. Depois pode ir para o seu camarote, fica dispensada.
Dorothy - Sim, madame.
John - Os teus pais já foram, Camille.
Richard - Pai, não posso mesmo ir?
George - Numa outra noite. Esta é especial, é a primeira noite a bordo. Sê um bom menino. Amanhã vamos passear pelo navio e brincar um pouco. O que achas?
Richard - É promessa.
Os passageiros de primeira classe que tinham realizado a travessia transoceanica a bordo do Olympic comprovaram com assombro que a companhia de navegação, pensando nos mais ínfimos pormenores havia-lhes destinado os mesmos camarotes que no navio gémeo, a cuidada apresentação da cama com dossel, a casa de banho privativa com duche e banheira, encontraram o mesmo pessoal de serviço que na travessia anterior e os mesmos companheiros de viagem.
Harriet - Os Astor... que idade tem ela mesmo?
Molly - Dezoito. E ao que parece grávida.
Athur - Que escândalo.
Harriet - E o que diz a primeira mulher dele?
Camille - Mãe, por favor.
Molly - Hey, Bruce, parece que o conforto dos seus navios estimula o aumento da natalidade e você é o responsável... ahahah.
Ismay - O Sr. Astor é um dos nossos passageiros mais assíduos, escolhe sempre a White Star Line para onde quer que vá. Depois de si, Margaret.
Molly - Amável, Bruce. Barks! Não quer sentar-se com a sua família na nossa mesa?
George - É um prazer.
Harriet - Não me vou sentar na mesma mesa que a famigerada Margaret Brown...
Arthur - Não sejas do contra.
John - Tu primeiro, Camille.
George - Força, John.
David - Cavalheiros, há lugar para um cavalheiro e para a sua esposa?
Ismay - Fraser, que prazer em vê-lo. Creio que ninguém se importa, não é verdade, meus senhores?
George - Ora ora ora... Quem temos nós a bordo...
Camille - George, por favor...
Às oito da noite, as embarcações auxiliares Nomadic e Traffic regressaram ao porto. Com uma hora de atraso, por causa do incidente à saída de Southampton, o Titanic pôs em marcha as suas máquinas e ao fim de dez minutos levantou âncora. Queenstown era o próximo destino e última escala de embarque, prevista ser avistada em quinze horas de navegação.
Amanhã veremos como termina este jantar, qual o mistério envolto neste homem de nome David Fraser que tanto inquieta os Barks...
Carl - O que achas do navio? Bonito, não?
Edward - Sim, tem boas condições, melhores das que tinha no meu quarto em Londres. Bom, tens um nome, suponho?
Carl - Sou Carl Jensen.
Edward - Parece uma só palavra. Sou Edward Roger.
Carl - Esperas alguém?
Edward - Uma jovem, trabalha para um família rica da primeira-classe.
Carl - A primeira-classe, onde os ricos se divertem de verdade. Isto aqui não é nada, dizem que uma suite deles é mais do que este salão junto.
Edward - Para quê tanto espaço? São assim tão espaçosos os ricos?
Carl - Vai perguntar-lhes...
Edward dirigiu-se em direcção às escadas fechadas por um portão.
Edward - Hey, senhor, não pode abrir o portão?
- O quê? Você é um passageiro de terceira-classe. Vê aquela indicação. A partir daqui só primeira-classe. É proibida a passagem para os deques superiores.
Edward - Mas espere. Eu só quero procurar uma amiga, volto logo.
- Sim, claro, e eu sou o presidente dos Estados Unidos. Desça para o seu convés e permaneça por lá, as acomodações são excelentes.
Edward - Eu não lhe pedi para se deitar comigo, só que me deixe passar para a procurar.
- Olhe o respeito. Eu não sou um desses emigrantes sujos com quem costuma falar. Permaneça nas suas acomodações. É o seu lugar.
Edward - Mas ela pode passar...
Enquanto isso na primeira-classe o jantar já tinha terminado, era a vez dos homens se dirigirem para o salão de fumantes. Mas George preferiu ir para o camarote com Camile.
David - Parece que o Arthur e a Harriett Morgan não se lembram de mim...
Hellen - Mas porquê? Deveriam?
David - Viste a forma como ele falou no Richard?
Hellen - Pensei que tinhas esquecido esse assunto. Pelo menos era essa a tua vontade quando te casaste comigo...
David - Não quando um filho se torna num negócio rentável...
Hellen - Um filho que tu nunca quiseste admitir... David, sê sincero comigo. Tu sabias que eles vinham a bordo do Titanic, não sabias? Por isso a tua vontade repentina de voltar depressa no Titanic. Os planos para recuperares a fortuna de que me falas, desde que soubeste que esta maldita viagem ia acontecer, tem a ver com eles, não é?
Um silêncio sinistro abateu-se sobre o camarote...
Enquanto as luzes de Cherbourg desapareciam, o transatlântico sumia-se na escuridão da noite. A navegação anunciava-se fácil e tranquila. Para muitos passageiros aquela era a primeira noite que passavam no alto mar, e não o faziam a bordo de um navio qualquer, mas sim naquele colosso, o melhor navio do mundo.
Tudo quanto viam à sua volta era do mais moderno e, durante aquelas primeiras horas, o mar calmo fez pensar a muitos que as avançadas técnicas de construção tinham sido capazes de vencer os receados enjoos.
* - Ship (navio) em inglês é um substantivo feminino daí os navios serem tratados por «ela»
** - Stern em inglês significa a popa do navio ou «traseiro»
Amanhã, a não perder, dois posts especiais, a manhã de 11 de Abril com fotos que o Padre Browne tirou aos Barks que se divertiam no convés e a partida para o imenso atlântico do maior navio do mundo.