sábado, abril 19, 2008

“Eu sobrevivi ao naufrágio do Titanic”
Parte IV
“Mais tarde, o comandante do Carpathia convidou todos os sobreviventes a ir ao convés para ver o iceberg. Na minha mente de 12 anos de idade ficou gravado o tamanho dele como sendo da altura de uma casa de dois andares, muito mais larga e com uma enorme chaminé. O navio nos conduziu até Nova Iorque antes de continuar sua viagem até Gibraltar, um gesto bondoso da parte da direção da Cunard White Star Line. Chegamos a Nova Iorque às 20,30 horas de quinta-feira, 18 de abril, e fomos levados às docas da Cunard White Star.
“Relembrando aquelas longas horas no barco salva-vidas, parece agora um milagre termos alcançado com segurança o Carpathia. O frio cortante era quase insuportável. Ficamos todos juntinhos para nos conservar quentes. As pessoas eram bondosas umas com as outras. Lembro-me de como ventava no convés do Carpathia. Os ventos chegavam a atingir diversos nós por hora. Felizmente, os ventos haviam deixado de soprar por tempo suficiente para a missão de resgate. Se as águas não tivessem permanecido calmas e tranqüilas durante esse período, é duvidoso que as operações de salvamento tivessem sido tão bem-sucedidas.”
“Morreu alguém nos barcos salva-vidas?” perguntei.
“Só sei de uma pessoa no nosso barco salva-vidas que morreu de frio. O corpo foi envolvido num lençol e lançado fora do barco.”
“Havia homens no seu barco salva-vidas?”
“Só mulheres e crianças, segundo a ordem da tripulação, com exceção de poucos membros da tripulação que serviram como remadores. Havia um casal jovem com um bebê, que ludibriou a tripulação. A esposa era muito arguta; ela vestiu o jovem marido de mulher, cobriu-lhe a cabeça com um xale e lhe entregou o bebê. Ele estava num barco salva-vidas e ela no nosso. Ambos foram resgatados pelo Carpathia.
“Ao chegarmos a Nova Iorque, esperávamos ser levados à ilha Ellis para passar pelo serviço de imigração. Entretanto, isto foi dispensado por causa da dor e do sofrimento que os sobreviventes já haviam suportado. Fomos entregues à Cruz Vermelha para sermos reunidos a nossas famílias. Meu irmão mais velho, Isaac, estava em Nova Iorque e nosso encontro foi marcado de uma mistura de sentimentos de alegria e de tristeza. Meu pai ainda se encontrava na França. Entretanto, concluímos que, se ele estivesse conosco no Titanic, não sobreviveria, por causa da norma de deixarem entrar apenas mulheres e crianças nos barcos salva-vidas. Talvez até mesmo tivesse dificultado nossa sobrevivência. Teríamos achado difícil abandonar papai a bordo do Titanic e procurar nossa própria segurança. Felizmente para ele, três meses mais tarde, chegou em segurança num outro navio.”
Meu tio pausou, perdido nos seus pensamentos sobre essa terrível experiência. Finalmente, interrompi seu devaneio. “O senhor sobreviveu àquela tragédia. Bem, quando aprendeu sobre esta iminente tribulação dos ‘últimos dias’?”
“Passemos de 1912 para 1930”, disse ele. “Um colportor procedente de Brooklyn, Nova Iorque, visitara Jacksonville, na Flórida, onde residiam a família de meu irmão mais velho e minha família, composta de minha esposa, meu filho e eu. Meu irmão mais velho vinha estudando a Bíblia com Testemunhas de Jeová que falavam árabe. Ele próprio se tornara Testemunha ativa. O colportor, chamado George Kafoory, realizava diversas reuniões para as pessoas de língua árabe. Eu recebi um exemplar do livro A Harpa de Deus em árabe. Após muitos debates com meu irmão, fiquei tão aborrecido que lhe disse por fim: ‘Eu o repudio como irmão, porque você abandonou a sua antiga religião grega ortodoxa. Não posso crer que você nunca mais fará o sinal da cruz, o símbolo da Trindade.’
“Eu amava meu irmão e fiquei profundamente perturbado com esta brecha entre nós. Passados meses, deparei com aquele livro A Harpa de Deus que eu havia adquirido. Tinha ajuntado pó mas eu o abri e me pus a lê-lo no começo da tarde e prossegui até depois da meia-noite. A verdade da Palavra de Deus começou a penetrar no meu coração. Passei a assistir a um estudo que era feito para pessoas de língua árabe e fui batizado em 1933.

(continua...)

in "Despertai!" de 22 de Janeiro de 1982.

1 comentário:

Anónimo disse...

A Cunard fez um excelente trabalho.
A disputa das companhias ( Cunard x White Star ) não deixou que afetasse o comportamento de cada tripulante durante o resgate. Fico imaginando nos dias atuais, com toda essa arrogância e prepotência, como seria?
Parabéns a esses bravos heróis.

Abraços...