sábado, abril 01, 2006

TITANIC

John - Recolheram alguém.
Camille - Ele está vivo?
John - Não sei.
Camille - Será o George? É o George Barks! Sr. George Barks. Precisa de roupas secas, um cobertor e uma bebida quente, uma sopa. Precisa de um médico! Há aí um médico? Meu querido, estás tão frio... Estás tão frio... Precisa de um médico imediatamente. Alguém pode chamar-me um médico? Ele é um excelente nadador. Disse que viria ter comigo, houvesse o que houvesse, e veio.
Capt. Rostron - Minha senhora, receio...
Camille - Não diga, não quero ouvir. Vamos para Nova Iorque... com o nosso filho. George... Respira, meu querido. Mostra-lhes que consegues respirar. Respira, por mim.
Capt. Rostron - Venha comigo.
Camille - Deixe-me. Ele precisa de mim.
John - Camille, não podes fazer nada. Ninguém pode. O George... foi-se. Ele foi-se.
Camille - Então tudo se foi. Tudo.

John - Temos de ver se temos notícias do Richard...
Camille - Nem acredito que se tenha afundado.
John - Nem eu. Mas temos de dar graças a Deus por estarmos vivos.
Camille - Chamo-me Camille Barks. Acabei de encontrar o corpo do meu marido, mas creio que o meu filho Richard tenha ido para o fundo com o navio. Não sei da enfermeira dos meninos, chama-se Dorothy, e dos meus pais... A minha mãe sei que estava num bote.
- Disse Richard? Entrou um rapazinho de nome Richard.
Camille - Será ele?
Harriett - Foram 30 000 dólares em títulos. Todo o meu guarda-roupa de Paris. Doze pares de sapatos, bons sapatos...
Camille - Mãe, ó mãe...
Harriett - Minha filha! Pensei que estava sózinha. Onde está o pai?
Camille - Não sei, mãe. Quantas pessoas trazia o seu bote? Quantas?
Harriett - Vinte, trinta, não sei. Não tinhamos espaço.
Camille - Tinham capacidade para 65 pessoas.
Harriett - Eu também perdi tudo! Deus sabe que não mereço estar aqui... Dava a vida para salvar um dos que morreram.
Camille - Desculpe, mãe. Eu também não mereço estar aqui.

Por volta das dez horas da manhã, uma senhora chegou ao pé de mim e perguntou-me:
- Chamas-te Richard Barks?
E eu respondi:
Richard - Sim, sou eu.
- Bem, a tua mãe tem andado à tua procura por todo o lado.

Lowe - Sra. Barks, venha para baixo. Está frio.
Camille - O mar é enorme, não é? Faz-nos sentir pequenos. Insignificantes.
Lowe - Talvez seja para nos lembrar que um dia todos morremos.
Camille - Um navio de viúvas.
Lowe - É bom não sabermos desde o princípio como as coisas vão acabar. Ou nunca faríamos as viagens que nos estão destinadas nesta vida. As viagens que fazem de nós aquilo que somos.
Camille - O senhor é um bom homem. Quero que saiba que o considero um bom marinheiro. E agradeço-lhe. Não só por ter voltado atrás, mas também pelo sangue-frio que teve em toda a situação.
Capt. Rostron - Não vamos encontrar mais ninguém vivo. Rume a Nova Iorque. Mande a tripulação levar para baixo as mulheres que estão no convés. Assim que partirmos, vão perceber que estão viúvas. Toda a força a vante.
Dean - Sim, meu comandante.

Quando os homens puseram as suas mulheres nos botes do Titanic, disseram-lhes: «Nós vamos ter connosco quando o barco nos vier salvar. Encontramo-nos nessa altura.» Por isso, no Carpathia, as mulheres estavam todas junto à amurada a ver se os seus maridos vinham nos outros barcos e eles nunca vieram. Ao meio-dia partimos em direcção a Nova Iorque. Esta é uma das coisas que me ficou sempre na memória. Consegue imaginar como se sentiam estas mulheres? Que souberam então que os seus maridos se tinham afundado com o navio?
Madeleine - Por favor, digam ao comandante que não podemos ir. Não compreende. O meu marido ainda lá está. Pode estar numa jangada a tentar alcançar-nos. Ele deve andar por lá à deriva.
Vaughan - Fizemos uma busca exaustiva e não há mais sobreviventes. Sinto muito.
Camille - Desculpe, viu um rapaz? Procuro um... Procuro um rapaz, Richard Barks. Procuro um rapaz loiro, de olhos azuis...
- Não vi...
John - Richard! Andavamos à tua procura! Estás bem?
- Não a teria deixado se soubesse que os botes não chegavam...
John - Desculpe. Confundi-o com outra pessoa, desculpe.
Bride - O doutor quer amputar-me a perna. Diz que é uma queimadura do frio. Mas eu não o deixo. Não vou perdê-la agora. Só tenho de me mexer.
John - Olha ali. O peão! É o peão do Richard!
Camille - Então ele está vivo! Ele tem de estar aqui. Meu Deus...
Margaret - Podes dar-me uma ajuda? Aqui! Tenho de fazer este rapaz comer a sopa, ou não vai sobreviver.
Camille - Richard, és tu? Ó Richard, meu pequenino. Ó Richard!
Richard - Mãe! É um milagre...
John - Tens de te alimentar.

Bem, quando estávamos no Carpathia e a minha mãe se apercebeu de repente que eu estava ali... Foi maravilhoso, foi realmente fantástico o facto de ela me ter encontrado. Ela chegou a pensar que eu também tinha morrido. Então juntei-me assim à minha mãe, ao meu tio, à minha avó e à minha irmã e eles estavam todos bem.
John - Acima de tudo reparo no silêncio. Esperava choros e gritos, mas estão todos calados.
Richard - Pode ser que ainda não tenham caído em si.
Camille - Eu ainda não caí em mim.
Richard - Pode ser que ainda ouçam o barulho. Eu nunca deixarei de ouvi-lo. E continuo à procura de certas caras. O triste bibliotecário... Esperava que o rapaz do elevador se tivesse salvo... Era a sua primeira viagem, e ele adorava o mar. Alguma vez veremos o mundo da mesma maneira?
Camille - Nunca o verei como um lugar seguro.
John - Nenhum de nós. E é claro que eles nunca o viram como tal. Para eles foi sempre perigos e injusto. Consta que o Sr. Ismay está em estado de choque e que disse a uma pessoa: «Não tenho o direito de estar vivo - morreram mulheres e crianças.»
Camille - Não pode sentir-se culpado por estar vivo. Não teria avançado com o barco pelo gelo se soubesse que ele estava lá.
Sra. Ogden - Boa tarde. Sou a Sra. Ogden de Nova Iorque. Sou uma das passageiras do Carpathia tentando ajudar. Tenho aqui café quente e sanduiches. Têm de alimentar-se. Dê o exemplo.
David - Não faça isso! Dê a outra pessoa. Todas estas senhoras perderam os maridos. Eu perdi a minha mulher...
Sra. Ogden - Eu sei o que sentiria no lugar delas. Acreditem que sinto muito, mas têm de viver, têm de dizer que foi a vontade de Deus. Café?
Madeleine - Não. Nem Deus. Deus afundou-se com o Titanic.
Harriett - Vá se embora. Acabamos de ver os nossos maridos irem para o fundo.

Ismay - Veja ali! Alguém!
Dr. McGhee - Onde?
Ismay - Ali!
Dr. McGhee - É só um pedaço de madeira.
Ismay - Toda aquela força, energia e elegância... E restam agora umas cadeiras...
O Sr. Fraser estava à procura da minha mãe.
Camille - Sim, eu sobrevivi. Uma estúpidez para ti.
David - Estava à tua procura.
Ela levanta a mão parando-o.
Camille - Por favor, não. Não fales. Apenas ouve. Vamos fazer um acordo, desde que seja algo que compreendas. A partir deste momento tu não existes para mim, nem eu para ti. Não me voltarás a ver de novo. E não me procurarás mais. Em troca, eu manterei o meu silêncio. As tuas acções nesta última noite nunca precisarão vir ao de cima, e tu terás a tua honra que tens tão cuidadosamente em conta.
Ela fixou-o com o olhar tão gelado como o icebergue que mudou as suas vidas.
Camille - Fui clara?
David - O que vais dizer ao teu filho?
Camille - Vou dizer-lhe que o seu pai morreu no Titanic.
Ela passou por ele de forma fria. O Sr. David estava petrificado.
David - És valiosa para mim, Camille.
Camille - As jóias são valiosas. Adeus, Sr. Fraser.
Passado um momento ele voltou-se e caminhou sózinho.
As máquinas do Carpathia trabalharam com um ritmo ligeiro e repousante. Lá em cima o vento assobiava por entre os mastros. Nova Iorque estava mais à frente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nossa, gostei da atitude da Camille, mas ainda espero uma severa punição para o David, hehehe.

Excelente história meu amigo.