TITANIC
Escritórios da White Star LIne, Nova Iorque
Franklin - Meus senhores, lamento anunciar-lhes que o Titanic se afundou às 2h20 desta manhã.
Astor Jr. - Ó meu Deus. Não me diga isso! Onde é que obteve essa informação? Não é verdade! Não pode ser verdade!
- Que sabe sobre os passageiros, Sr. Vice-Presidente?
Franklin - Temos esperança de que os rumores que nos chegam por telégrafo de Halifax de que há passageiros a bordo do Virginian e do Parisian sejam verdadeiros e que esses navios apareçam com alguns dos passageiros. Eu pensava que ele era inafundável e baseei-me nos melhores especialistas... Não compreendo...
- As coisas estão bastante feias.
18 de Abril de 1912, 5ª Feira
A espera terminou na noite de 5ª Feira. O Carpathia passou junto à Estátua da Liberdade sob os olhares de 10 000 pessoas que se concentravam na Battery.
- O seu nome, por favor?
Richard - Barks... Richard Barks.
- Obrigado.
Richard - Mãe...
Quando o navio se aproximou do cais 54, havia mais de 30 000 pessoas à espera, à chuva. Até ao fim, o comandante Rostron não entrou em contacto com os jornalistas. Não so deixou subir a bordo em Quarantine, e o Carpathia, ao subir o North River, era acompanhado por rebocadores cheios de reporteres que gritavam perguntas através dos megafones. Chegámos ao porto às 20h40 e começaram a descarregar os salva-vidas do Titanic, de modo a poderem atracar. Foram levados para o cais da White Star Line e durante a noite os caçadores de lembranças despojaram-nos de tudo.
O Carpathia atracou às 21h35, as escadas do portaló foram descidas, os primeiros sobreviventes saíram com passos hesitantes. Ninguém estava autorizado a sair do navio a não ser que tivessem amigos, bons amigos, ou familiares em Nova Iorque que estivessem à espera deles. Os reporteres apareciam de todos os lados, deviam de ter ido de barco até ali e subido para o Carpathia. E a minha mãe estava tão nervosa que não parava de chorar. Quando lhe faziam uma pergunta ela chorava e dizia:
Camille - Não me façam perguntas, perguntem ao Richard que ele contavos tudo.
À minha volta só se ouviam choros e gritos de dôr. Praticamente todas as pessoas que ali estavam tinham perdido um ente querido sob as águas geladas do oceano. A imagem era aterradora: mães abraçadas às filhas, senhoras de idade tapando a cara com as mãos, mulheres com os olhos cravados no mar... Parecia que Nova Iorque inteira tinha ido ali para nos ver. E os americanos foram muito generosos e até nos deram dólares.
- Sra. Brown, chegue aqui. A senhora escapou.
Margaret - O Titanic foi ao fundo, mas eu não vou.
- Que pensa da White Star LIne?
Margaret - Na minha terra, o Sr. Ismay seria enforcado na primeira árvore.
- Perdeu muita coisa?
Margaret - Tudo o que possuo está no fundo do mar, mas isso não importa. Grave foi os salva-vidas virem meio vazios.
- Quais são os seu planos?
Margaret - Vou candidatar-me ao Senado. Se sobrevivi a isto, sobrevivo à política.
Madeleine - É evidente que os filhos do John não virão esperar-me.
Camille - Claro que vêm.
Madeleine - Há ali tanta gente... E a Camille? Como ficou o Sr. Fraser?
Camille - Nem quero pensar nisso.
Madeleine - Vieram. Os filhos do John. Estou a vê-los. Afinal vieram esperar-me.
Camille - Vai correr tudo bem, Madeleine, tenho a certeza.
Madeleine - Obrigada pelo apoio, Camille. Adeus John, Sra. Morgan. Adeus, Richard, Catherine...
Camille - Adeus, Madeleine.
Richard - Mãe, o tio Bert!
Bert - O meu sobrinho! Graças a Deus voltaram sãos e salvos. Graças a Deus. Mãe.
Harriett - Filho, o teu pai...
Bert - Eu sei, mãe. Lamento pelo George também... A única coisa que importa agora é tu teres voltado, Richard.
Richard - Tem razão. Voltei.
No dia seguinte puseram equipas em cada bote a eliminar o nome Titanic. Ficamos no hospital duas ou três semanas para que a minha mãe se recomposesse e depois da minha irmã ficar boa voltamos para Inglaterra porque ficamos sem nada. Não tinhamos roupas, nem dinheiro e ela, claro, estava tão destroçada que a única coisa que queria era voltar para casa. Mas procuramos todos os hospitais durante uma semana para vermos se encontravamos o meu avô. Mas ele não tinha sido salvo. Ainda hoje me lembro muito bem das palavras que apareciam na primeira página dos jornais, eram apenas estas palavras: "Inacreditável, Titanic afunda-se!"
Foi terrivel aquela perda. As pessoas não queriam acreditar. Não eram capazes de acreditar. Afirmar que era impossível que determinado navio se afundasse foi tentar demasiado a sorte.
Mellissa - Os restos do Titanic foram localizados em 1985 no Atlântico Norte à profundidade de 395 metros. Todas as tentativas para o içar foram infrutíferas. Das 2208 pessoas a bordo do Titanic salvaram-se 712 e pereceram 1496. Seria talvez o maior barco alguma vez construído: "Este navio flutuará para sempre na água." Mas o contrário passou a fazer parte da História. O nosso directo fica por aqui, agradecemos aos nosso convidados, até uma próxima oportunidade.
Richard - Era um navio lindíssimo. Era maravilhoso. É assim que devemos recordá-lo.
Estávamos em 2002, nos 90 anos celebrados sobre a tragédia do Titanic, Richard retornou a Southampton com 102 anos de idade, andava numa cadeira de rodas, passeava-se pelo cais onde 90 anos antes tinha estado, também numa quarta-feira como naquele ano de 2002, os pensamentos dele corriam todo um século vivenciado na primeira pessoa, uma Primeira Grande Guerra Mundial, os Loucos Anos Vinte onde conheceu aquela que viria a ser a mãe dos seus filhos, uma Crise da Bolsa, o casamento de sua irmã Catherine, a morte de sua avó, o surgimento de Estados Ditatoriais, uma Segunda Guerra Mundial ainda mais mortífera, a morte de sua mãe, depois do seu tio, o surgimento do Rock 'n Roll, a ida do Homem à Lua, Jovens nas Revoluções de Paz e Amor, a localização dos restos do Titanic, a Descodificação do Genoma Humano, a Clonagem... A viragem de um novo século!As águas calmas do porto de Southampton começaram a ficar agitadas, algo parecia querer surgir debaixo do mar, e como que por ilusão, o Titanic voltada a sair das águas, ferrogento, negro e destruido em frente dos olhos incrédulos de Richard, mas cedo esses olhos encheram-se de lágrimas.O navio ferrugento ganhava um novo brilho, parecia voltar a ser o Titanic de 1912 rejuvenescido. Uma porta se abriu e a prancha foi lançada. Alguém do outro lado da prancha parecia esperá-lo. Richard levantou-se da cadeira, caminhou trémulamente sobre aquela prancha. Esse alguém estendeu-lhe a mão, era o seu pai George. Ele reparou nas suas mãos, tinha recuperado a juventude de 1912.
Um oficial lhe disse:
- Bem-vindo ao Titanic.
Lá dentro tudo era novo, era o Titanic, o cintilar dos lustres, o sol no convés. Ouviam-se as vozes que ecoaram ao longo da travessia, vozes familiares.
Camille - George, repara, não é tão lindo? Estou fascinada com tanta beleza e bom gosto.
George - É extraordinário.
George - É extraordinário.
John - Estávamos à vossa espera.
Harriett - Importa-se de me passar o chá?
Andrews - Já reparou nesta maravilhosa decoração?
O Titanic partiu para a eternidade, o velho Richard estava tombado no chão do cais, já sem vida. O Televisor que se ligou no início apaga-se numa tela escura.
Para o Ricardo.
Para ouvir: http://share.w-o-fantian.com/music/Brave%20Heart/18%20End%20Credits.wma
1 comentário:
Lindo final, adorei o encerramento desta história.
Só fico triste por não ter tido punição para o David.
Parabéns meu pequeno escritor e grande amigo.
E olha que esta história estava guardada há muito tempo, escondendo o ouro heim, hehehe.
Novamente meus parabéns.
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