David - O que estás a fazer miúdo maldito!? Devolve-me isso!
Richard - O senhor não é meu pai! Agora não tem como provar nada!
Hellen - Mal educado!
O Charlie defendeu-me e atacou a saia da senhora Fraser.
Hellen - Meu Deus, livrem-me deste animal!
John - Charlie, aqui!
O aparato foi suficiente para despertar as atenções de outros passageiros que por ali passavam.
Camile - Richard!
George - Richard, espera! Ainda me paga por esta, David! Ainda hoje!
David - Estas cartas que se perderam são apenas um terço das que a Camille me enviou, ela sabe disso!
Eu saí dali a correr, só parei a meio do corredor da coberta A quando o meu pai George me apareceu pela frente.
George - Hey hey, espera, onde vais? Estás a chorar, meu pequeno.
Richard - Não sou idiota. Eu estou bem. Vou ficar bem, a sério.
George - A sério? Não me parece. Richard, quem te amava ainda tu estavas dentro da tua mãe, fui eu. E amei-te ainda mais quando te vi nascer. E dei-te todo esse amor para te tornares nesse lindo rapaz que és hoje. Richard, pai é aquele que ama.
Richard - George... pai. És o meu pai de coração nunca conheci outro pai na minha vida.
George - Dá-me um abraço.
Richard - Quando chegarmos a New York levas-me ao Luna Park ao «tiro e queda»?
George - Claro que te levo.
Richard - E deixas-me andar na montanha russa?
George - E andar a cavalo.
Richard - De camelo. Podemos acampar neste Verão junto a um rio, nunca fizemos isso.
George - Ou de um lago para tomar banho.
Richard - E atirar pedras ao lago e fazê-las saltar.
George - Sem irem ao fundo?
Richard - Claro, se o Titanic é mais pesado que uma pedra e não se afunda...
George - Podiamos ir ao Carrocel.
Richard - O Carrocel do nosso Titanic é bonito. Pai, na quinta-feira quando estava com a mãe encontrei um lugar bonito. Gostaria de te levar lá também. Fecha os olhos, vem comigo, dá-me a mão. Não olhes.
George - Estou curioso.
Richard - Agora abre.
Na coberta A, a parte aberta junto do mastro de popa era um dos locais mais bonitos para se estar. Aqui os passageiros de primeira-classe podiam passear ao ar livre, com pouquíssimos obstáculos entre o seu olhar e o céu ou o horizonte marítimo.
George - É muito bonito...
Richard - É, não é? Vemos todas a nossa vida.
George - É lindo, ficava aqui para sempre.
Richard - Vês a noite lá ao fundo? Vai apanhar-nos. Dia e noite sucedem-se, pai. O que hoje é motivo de tristeza para nós amanhã será de alegria... Temos de aproveitar cada dia como se fosse o último e é bem verdade.
Camille - Richard, George. Procurei-vos por todo o lado.
John - Calculámos que tivessem vindo para aqui.
Foi a última vez que o Titanic viu a luz do dia. Não sei se, pelo facto de ser Domingo, foi um dia fabuloso, o melhor de toda a viagem. O tempo estava calmo sem nuvéns e o frio era intenso. Tudo parecia um sonho, era bom demais para ser verdade. Acho até que a melhor ementa foi a que foi servida naquele Domingo, filet mignone lili, pombo assado, pato assado com molho de maçã, enquanto que na terceira-classe serviram papas de aveia, carnes frias e pikles. A viagem estava quase a chegar ao fim e ninguém tinha dúvidas que tinha sido um êxito e tinha-se já a certeza de que se viajava no maior paquete do mundo e também no mais deslumbrante e requintado de sempre.
1 comentário:
Nossa, belo gesto do menino Richard.
Como disse no post anterior, esse David é um cretino mesmo.
Agora lendo o final da história de hoje, dá até um frio na barriga, pois todos os sonhos estam para terminar.
Já sabemos o que acontece, mas sempre que leio isso tenho uma sensação de perda, de tristeza.
Parabéns Mário, tá excelente a sua história.
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