OS PORTUGUESES QUE MORRERAM NO TITANIC
PARTE I
Artigo da Revista Sábado da edição nº 415 de 12 de Abril de 2012.
Querida mãe, pai e todos.
Nunca vou esquecer aquela noite enquanto for vivo, foi horrível. Estive na água cinco horas e meia até ser salvo. Estive no hospital com os pés e as pernas cheios de queimaduras do gelo. Sou o homem mais sortudo do mundo por estar vivo, garanto-vos. (…) Metia pena ouvir os gritos por ajuda. Estava a nadar às voltas à procura de qualquer coisa a que me agarrar, tinha as minhas botas calçadas com os atacadores desatados, e algo as estava a puxar. De repente saíram com um puxão. Era um pobre desgraçado, que me pareceu ser português; encontrou qualquer coisa a que se agarrar e como resultado as minhas botas soltaram-se. (...)
O autor desta carta chamava-se Charles Judd, tinha 32 anos, trabalhava nos fornos do Titanic e pode ter sido o último sobrevivente do naufrágio a ver um dos quatro passageiros portugueses, ainda com vida, naquela madrugada de 15 de Abril de 1912. Três eram agricultores madeirenses que seguiam na 3.ª classe, enquanto o outro viajava sozinho em 2.ª e era, até esta semana, um dos passageiros mais misteriosos do navio: José Joaquim de Brito surge na lista de viajantes como tendo 40 anos, mas desconheciam-se as informações elementares sobre a sua vida.
Uma pesquisa realizada a pedido da SÁBADO no Arquivo Distrital de Faro permitiu localizar o seu passaporte. Não tem fotografia, mas descreve-o como um homem de 1,62m, olhos "pardos" (ou seja, acinzentados), cabelo castanho, rosto comprido, nariz e boca regulares e de cor "natural". José de Brito pediu o documento, que ficou com o número 325, para poder embarcar no porto de Lisboa rumo a São Paulo, em Junho de 1911. Era casado e tinha nascido em Loulé 40 anos antes. Segundo o livro da principal paróquia de Loulé, São Clemente, José de Brito nasceu às 6h da manhã de 16 de Abril – ou seja, o Titanic afundou-se precisamente na véspera de José Joaquim de Brito festejar os seus 41 anos.
Quando adquiriu o bilhete de 2.ª classe para a viagem inaugural do que era na altura o maior navio do mundo, deixou como contacto a morada de Fred Duarte, no número 34 da Mulgrave Street, em Liverpool. Deveria ser Frederico Garcia Duarte, que escreveu de Inglaterra uma carta publicada na capa do Jornal de Notícias do dia 27 de Abril de 1912, a dar conta da morte, no Titanic, de "um estimadíssimo rapaz, português, de nome José de Brito, que seguia de Londres para Nova Iorque, donde iria depois para S. Paulo (Brasil) juntar-se com a família".
José de Brito tinha trabalhado em S. Paulo, na Loja do Japão, que vendia fantasias de Carnaval e produtos exóticos, e pertencia a um português, Manuel Garcia. Ainda segundo a mensagem de Frederico Duarte, do Brasil José de Brito viajou para Itália, onde trabalhou no comércio, e depois para Inglaterra.
Outro português, "o sr. B. da Silva Salazar", escreveu de Londres para o Diário de Notícias e indicou que José de Brito "alcançou gerais simpatias" nos dois anos em que foi funcionário da Pinto Leite & Nephews. Tratava-se de uma agência bancária, com escritórios em Manchester, Liverpool e Londres (na Moorgate Street). Pertencia aos sobrinhos de Sebastião Pinto Leite, conde da Penha Longa, que acumulou um vasto património em Inglaterra.
Após dois anos no banco londrino, José de Brito decidiu regressar a São Paulo, onde viviam os seus pais. O mais natural era que fizesse a viagem num dos navios da Mala Real Inglesa, que ligava directamente Southampton ao Rio de Janeiro, e cujos bilhetes eram comercializados, pelo menos em Manchester, pela agência bancária dos Pinto Leite, conta à SÁBADO o escocês Edward Barbour, consultor em logística e navegação, que tem estudado a história da empresa.
Em vez de ir directamente de Southampton para São Paulo, José de Brito optou por fazer um desvio na rota para viajar no Titanic até Nova Iorque. O facto de ter comprado um bilhete de 2.ª classe mostra que tinha um salário razoável – as 13 libras que pagou pelo bilhete 244360 equivaleriam hoje a 1.212 euros.
Todo o navio foi desenhado para manter as barreiras entre as três classes. Como passageiro da 2.ª classe, José de Brito não tinha acesso à piscina, ao campo de squash, ao ginásio, nem à moderna sala de banhos turcos. Mesmo assim, o seu quarto exibia um luxo ao nível da 1.ª classe de outros navios da época. Tinha um sofá, uma secretária e um armário e a roupa de cama era mudada todos os dias. Havia ainda uma pia e um espelho em cada quarto, embora, ao contrário do que sucedia na 1.ª classe, não dispusesse de casa de banho privativa nem água corrente, quente ou fria.
Também não havia bares na 2.ª classe, pelo que o chá e o café eram servidos na biblioteca ou no amplo terraço exclusivo, cheio de espreguiçadeiras onde os passageiros podiam apanhar sol. Na sala de jantar, as refeições dos 564 viajantes desta categoria decorriam ao som de um piano. Segundo a ementa, na sua última refeição, após o consommé de entrada e antes da sobremesa e do café, José de Brito pôde escolher um de quatro pratos: caril de frango, cordeiro, peixe cozido ou peru.
2 comentários:
Os Jesuítas tramaram a descida do Titanico as águas do Atlântico. O comandante do navio pertencia a ordem jesuítica e já sabia o que ia acontecer.
A verdadeira história do TITANIC pode ser encontrada no youtube: TITANIC O MEGA SACRIFÍCIO.
É uma teoria, mas a qual eu nunca percebi o verdadeiro objetivo de provocar tal acidente.
Enviar um comentário