domingo, junho 19, 2011

 A CRIANÇA DESCONHECIDA
Cinco dias após o navio de passageiros Titanic afundar, a tripulação do navio de resgate Mackay-Bennett resgatou do Oceano Atlântico em 21 de Abril de 1912, o corpo de um menino de cabelos louros, com cerca de 2 anos. Juntamente com muitas outras vítimas, o seu corpo foi levado para um cemitério em Halifax, Nova Escócia, onde a tripulação do Mackay-Bennett encomendou uma lápide dedicada à "criança desconhecida" que foi colocada sobre o seu túmulo. Quando se afundou, o Titanic levou consigo a vida de 1.497 das 2209 pessoas a bordo. Alguns corpos foram recuperados, mas os seus nomes permanecem uma incógnita, enquanto outros ainda estão desaparecidos. Agora os pesquisadores acreditam que finalmente resolveram a identidade do desconhecido bebé ao concluir que ele tinha 19 meses de idade, sendo por isso Sidney Leslie Goodwin, de Inglaterra. Embora a criança desconhecida já tenha sido identificada incorrectamente duas vezes, os pesquisadores acreditam que finalmente agora determinaram a identidade da criança como um Goodwin. Após a recuperação do seu corpo, ele foi inicialmente identificado como sendo o menino sueco de 2 anos de idade, Gösta Leonard Palsson, que foi visto sendo arrastado para o mar quando o navio se afundou. O corpo da mãe desse rapaz, Alma Palsson, foi recuperado com os bilhetes de todos os quatro filhos no seu bolso, e foi enterrado numa sepultura atrás da criança desconhecida. O esforço para verificar a identidade da criança usando a ciência genética começou há pouco mais de uma década atrás, quando Ryan Parr, um professor adjunto da Universidade Lakehead, em Ontário, que trabalhou com o DNA extraído de restos humanos antigos, assistia a alguns vídeos sobre o Titanic. "Eu pensei 'Uau, pergunto-me se alguém ainda está interessado, ou ainda se preocupa com as vítimas não identificadas do Titanic'", disse Parr. Em 2001, com a permissão da família Palsson, os restos da criança desconhecida foram exumados de Fairview Lawn Cemetery, um dos cemitérios de Halifax, onde as vítimas do Titanic foram enterradas. Parr esperava investigar também as identidades de outras vítimas, apesar da decomposição dos corpos dificultar a tarefa. Dois dos caixões recolhidos apenas continham lama, e da criança desconhecida apenas restava um longo fragmento (seis centímetros) de um osso do braço e três dentes. Mas isso foi o suficiente. A partir desses restos, Parr e sua equipa extrairam o DNA de uma secção de mitocôndrias (produtoras de energia das células) chamada HV1 que rapidamente sofrem mutações. O DNA mitocondrial é passado de mãe para filho, assim a equipa comparou a sequência de DNA da criança desconhecida com amostras de parentes maternos da criança Palsson. Estas semelhanças por sua vez, não foram encontradas. Eles ampliaram a sua busca para incluir cinco outros meninos menores de 3 anos que tinha morrido no desastre. Alan Ruffman, que se envolveu no projecto como um associado de pesquisa do Maritime Museum of the Atlantic, em última análise, rastreou as linhas maternas de todos os seis filhos (incluindo a criança Palsson) com a ajuda de genealogistas, historiadores, pesquisadores do Titanic, tradutores, bibliotecários , arquivistas e membros das famílias. Comparando o  HV1 da criança desconhecida com essas outras jovens vítimas do Titanic, os pesquisadores eliminaram quase todos, menos dois dos rapazes: Eino Panula Viljami, um menino de 13 meses de idade finlandês, e Sidney Goodwin de 19 meses, sueco. Uma análise de pericia dos dentes da criança colocaram a sua idade entre os 9 e os 15 meses o que aparentemente eliminaria Goodwin, que era mais velho. Assim, os pesquisadores concluíram que o menino seria Eino Panula e, em 2004, publicaram os seus resultados. Mas as dúvidas permaneceram. Um última análise a um par de sapatos de couro recuperados da criança desconhecida e realizada no Maritime Museum of the Atlantic tinha levado os pesquisadores a questionar a identificação. Os sapatos tinham sido salvos por Clarence Northover, um sargento da polícia de Halifax, em 1912, que ajudou a guardar os corpos e os pertences das vítimas do Titanic, segundo o site do museu. Uma carta do neto de Northover, Earle, conta como as roupas da vítima tinham sido queimadas para impedir caçadores de souvenirs. Clarence Northover não conseguiu queimar os sapatos, na esperança de algum familiar os reclamar, e pôs os sapatos na gaveta da escrivaninha do posto de polícia. Em 2002, Earle Northover doou a reliquia ao museu. Mesmo desgastados, estes sapatos eram muito grandes para um menino de 13 meses de idade. Parr e sua equipe tentaram a identificação novamente, desta vez com a ajuda da U.S. Armed Forces DNA Identification Laboratory. Eles focaram-se noutro resto mortal, a secção menos propensa a mutação do DNA mitocondrial, onde encontraram uma única diferença que indicava que Goodwin poderia realmente ser a criança desconhecida. Assim, a U.S. Armed Forces DNA Identification Laboratory confirmou essa suspeita quando encontraram uma diferença singular em outra secção do DNA. "Felizmente, era uma diferença rara, de modo que é o que lhe dá 98% de certeza da identificação estar correcta," disse Parr. Antes de morrer, Sidney Goodwin viajava no Titanic com os seus pais, Frederick e Augusta, e cinco irmãos da Inglaterra para Niagara Falls, NY. Carol Goodwin, de 77 anos, residente Wisconsin, ouviu falar sobre a família e das irmãs de Frederick Goodwin, uma das quais era avó de Carol. "Não posso dizer que realmente me assustou ou me surpreendeu", disse Carol Goodwin sobre a notícia de que a criança desconhecida era seu parente. "Eu achei que iria levar o seu tempo até se saber a verdade." Quando criança, ela aprendeu sobre a família de Frederick Goodwin ao escutar as conversas entre a sua avó e a sua tia-avó. "Elas não falavam muito sobre as crianças," disse Carol Goodwin ao LiveScience. O interesse de Goodwin na história da família aconteceu quando a sua neta Becky de 13 anos de idade, viu uma exposição do Titanic e escreveu uma redação para a escola. Quando o seu professor quis submeter o artigo para a revista "Junior Scholastic," Goodwin decidiu começar a pesquisar. Agora Goodwin está trabalhando em dois livros sobre o assunto, um menor sobre a criança desconhecida e um livro maior, com o título "Os Goodwin a bordo do Titanic: Saga de uma Família de terceira classe." E, dentro de um ano, ela e o seu marido tencionam fazer um cruzeiro em memória do centenário do Titanic. Em 6 de Agosto de 2008, parentes da família Goodwin fizeram um serviço fúnebre em Fairview Lawn Cemetery onde eles agora acreditam estar Sidney Goodwin que foi enterrado sob a lápide da criança desconhecida. Um primo leu os nomes de cerca de 50 crianças que também morreram quando o Titanic afundou e um sino tocava a cada um dos nomes mencionados. Uma chuva suave começou a cair quando o primeiro nome foi lido, e parou quando a lista terminou. Em último caso, a família deixou a lápide e o túmulo como estavam. "A lápide da criança desconhecida representa todas as crianças que morreram no Titanic, e deixamos isso dessa forma", disse ela. Os restantes membros da família Goodwin nunca foram recuperados. "Desde que aqueles corpos não identificados foram enterrados em Halifax, que leio os relatórios do médico legista para cada um deles, e nada se encaixa", disse ela. Um artigo descrevendo a análise genética que levou à identificação final dos restos mortais do menino desconhecido está programado para ser publicado na edição de Junho 2011 da revista Forensic Science International Genetics que já está disponível online.

11 comentários:

Ana Rita Correia disse...

Ainda hoje o Titanic continua a ser falado...
Acho fascinante que passado todo este tempo a ciência consiga estes resultados

Ana Rita Correia disse...

Ah, conheço muito bem. Tenho-a por aqui no pc. É linda :)
Acho que já conheces algumas das minhas favoritas, pelo meu blog. Mas se quiseres ouvir uma música realmente especial, deixo-te esta
http://www.youtube.com/watch?v=XoesfppMfe8

Ana Rita Correia disse...

Conheces? São uma das minhas bandas preferidas.
Ah, muito obrigada :) A musica é uma das minhas grandes distracções. Ainda bem que gostas

Mandy disse...

Isso mesmo!
Esse bebezinho se chama Sidney Leslie Goodwin!!!
R.I.P. para esse inocente e para TODA sua família que também morreu no navio(e aos demais mortos tbem). :' -(

Mário Monteiro disse...

obrigado pelo comentário Amanda, é uma linda homenagem.

Ana Rita Correia disse...

Tens de me dar a ouvir um dos teus programas. Estou curiosa :)

Mandy disse...

De nada.

Eu lembro que "conheci" o Sidney quando estava passeando pelo youtube,e achei este vídeo sobre o Titanic:

http://www.youtube.com/watch?v=i8HOpOhofKE

Quando terminei de assistir,me senti MUITO triste e com uma vontade enorme de conhecer esse bebê e a família dele.

Pelo que eu pesquisei(e que eu lembro),a família tinha vendido a casa na Inglaterra porque estavam com dificuldades e usaram o dinheiro para tentarem uma vida nova nos EUA.

Como eles eram passageiros da 3° classe,não tiveram muita chance de escaparem...

Como você colocou no post,só o corpo desse garotinho foi encontrado. :(

Desde então... quando eu penso no Titanic,a primeira pessoa que eu lembro é ele.

Mário Monteiro disse...

Amanda, realmente, é triste pensar que tantas crianças como ele também morreram. Acho que a melhor forma de lembrar destas 1500 vítimas, é pensar que graças a elas, milhares e milhares de outras almas foram salvas: criou-se a patrulha do gelo que evitou tantos acidentes identicos ao do Titanic, todos os navios passaram a ter botes para a sua capacidade máxima de passageiros, sendo mais que suficientes, o rádio marconi passou a funcionar 24h por dia garantindo uma maior segurança, os arquitectos navais aprenderam com o afundamento e fizeram melhorias aos navios tornando-os ainda mais seguros,e desde então, qualquer passageiro tem os mesmos direitos básicos necessários à sua sobrevivencia, não importando a sua classe ou estatudo social.

Mandy disse...

É verdade. Honradas sejam!

Mário Monteiro disse...

eles sim, são os verdadeiros heróis. =)

Lucas Rubio disse...

Ual! Quer post interessantíssimo!!! É muito triste pensar que memórias foram perdidas com o tempo, com a queima de pertences (no resgate dos corpos) e que milhares morreram inocentemente...
É muito bom saber que finalmente descobriram a identidade desta criança e que nossa tecnologia avançou as ponto de descobrir DNA em um corpo em decomposição a quase 100 anos...
Abraço amigo, me tocou bastante...