UM RELATO COMOVENTE
Com o 100º aniversário do desastre do Titanic já no próximo ano, uma história dramática, contada em primeira mão, foi descoberta entre os papéis de um membro da tripulação sobrevivente, que mais tarde trabalhou em Southend Pier. Joseph George Scarrott de 34 anos embarcou em 1912 no Titanic, "parecia um sonho tornado realidade", escreveu. Joseph, de Portland Avenue, perto de Southend High Street, viveu até os 60 após o pesadelo do Atlântico. Ele morreu no antigo Hospital Rochford, em 1938, deixando uma viúva. Cinco anos antes, enquanto trabalhava como vigia nocturno no cais, Joseph escreveu artigos sobre a tragédia do Titanic para a Pier Review, a revista do então Southend Corporation Pier Department. Lembrando-se daquela noite entorpecente, Joseph escreveu: "Por volta das 23:30 eu estava em pé a amarrar o bote número dois no convés quando de repente houve um estrondo e enormes blocos de gelo cairam ao longo de todo o lado estibordo, enchendo completamente o convés. Por um momento o Titanic balançou para a frente e para trás, depois pareceu que tudo tinha voltado ao normal, como se nada tivesse acontecido. Fui para baixo para chamar os outros para virem ver, e escusado será dizer que os achei a todos acordados. Pela meia-noite tivemos a ordem: "Todos ao convés para limpar e despejar todos os botes." - Eu estava trabalhando no bote 14, quando o Capitão Smith deu a tal ordem que nunca esqueceremos: "Homens, vocês sabem o vosso dever, colocar as mulheres e crianças nos botes primeiro." - Eu perguntei ao Sr. Wilde, o imediato, que estava perto de mim, se eu deveria ir para o número 11, o bote que me estava atribuido. Mas como eu era o único marinheiro no número 14 naquele momento, ele mandou-me ficar. Achei que era difícil conseguir fazer as mulheres entrarem nos botes, porque elas estavam com a idéia que o Titanic era inafundável. Mas conseguimos colocar 60 a bordo e foi-nos dada ordem de nos afastarmos. Com cinco maquinistas e um empregado de limpeza de janelas, eu tinha um total de 66. À medida que o bote estava sendo descido, o Sr. Lowe, quinto oficial, embarcou e eu estava muito contente com isso porque haviam pessoas a tentar saltar para o bote enquanto este descia. Lowe estava com um revólver e ameaçou atirar caso houvesse qualquer tentativa de entrar no barco. Na verdade, ele disparou dois tiros para o lado do navio, como um aviso." Joseph descreveu como a embarcação balançava perigosamente vários metros acima da água antes de finalmente tocar a superfície do mar, entre os gritos dos passageiros aterrorizados. Ele escreveu: "Tinhamos remado cerca de 200 metros para longe da sucção quando o navio se afundou. De repente, o navio virou para estibordo, em seguida, deu-se um estrondo como um trovão e foi para o fundo, de frente. Antes de desaparecer, ele partiu-se ao meio entre a terceira e quarta chaminé, perto da linha de água pouco antes de afundar. Nesse momento, todo o horror da situação veio sobre todos nós. Podíamos ouvir os gritos e mais gritos de socorro dos que estavam na água. A noite estava muito escura e era difícil decidir qual o caminho a tomar para a operação de resgate. Quando os nossos olhos se acostumaram à escuridão descobrimos que estávamos entre os destroços e corpos boiando com os coletes salva-vidas. Vimos apenas um homem vivo e depois de muito esforço, conseguimos puxá-lo para o bote, mas ele morreu pouco depois." - O homem que Joseph se refere aqui era o passageiro de primeira-classe William Hoyt que depois de resgatado da água ainda tentaram desesperadamente aquecê-lo e ajudá-lo a respirar tirando-lhe os colarinhos da sua camisa de gala, mas pouco depois perdeu os sentidos e morreu silenciosamente. "Ao amanhecer pudemos ver vários botes com sobreviventes, bem perto de nós. Recebemos ordem para juntarmos os botes uns aos outros para formar um grande objecto de forma a que qualquer navio de resgate nos pudesse ver rapidamente."
O Carpathia resgatou Joseph e os outros e pelo meio-dia estavam a caminho de New York. Joseph voltou ao mar, servindo em diversos navios até 1921. Os registos pessoais do seu serviço regular referem-se a ele com uma avaliação de "muito bom".
Agora, quase um século depois desde o desastre que já gerou artigos, livros, programas de TV e do premiado filme Titanic de 1997, as memórias de Joseph foram dadas a conhecer por uma sobrinha, de 86 anos de idade, Muriel Lockwood, de Southend.
3 comentários:
Que curioso. Adoro tudo o que se relaciona com o Titanic.
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Que relato tocante... Estava arrepiada a ler. São tão valiosas as poucas palavras de quem esteve presente naquela viagem.
Obrigada, mais uma vez, por partilhares connosco :)
Nossa Mário, ótimo post! Adorei conhecer esta pessoa e ver o relato comovente dela! Obrigado por espalhar o conhecimento entre nós, abração, adorei o post!
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