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O TITANIC E OS CINCO MITOS
O TITANIC E OS CINCO MITOS QUE SOBREVIVEM HÁ MAIS DE CEM ANOS
Foi por volta de 11h45min da noite do dia 14 de abril de 1912, que o navio RMS TITANIC colidiu com um iceberg e causou uma das maiores fatalidades navais de toda a História. Apesar do filme Titanic de James Cameron, lançado em 1997, ter alcançado imenso sucesso, ele não foi o primeiro a homenagear o navio transatlântico. E o que poucas pessoas sabem é que muitos dos relatos mostrados nos filmes não condizem com a realidade vivida pelos tripulantes e passageiros do navio. Confira agora quais são os cinco maiores mitos que o cinema ajudou a divulgar, mas que podem ser apenas histórias fantasiosas criadas para aumentar a atmosfera mitológica do Titanic.
1) NEM DEUS PODE AFUNDAR O TITANIC
Apesar de esta frase ser muitas vezes repetida para mostrar que os grandes nomes da White Star Line (a empresa responsável pelo navio) e o comandante da embarcação estavam superestimando o poder do Titanic e que, claramente, tinham se enganado, ela pode não ser real. Pelo menos é o que afirma Richard Howells, especialista do Kings College de Londres. Ele afirma que esse mito pode ter sido introduzido no imaginário popular após o acidente. Segundo o pesquisador, a White Star Line nunca disse que o navio era invulnerável. Há também relatos de que havia muito menos publicidade em torno do Titanic do que se imagina, pois o grande nome da construção naval na época era o Olympic, o navio-irmão do Titanic criado pela mesma empresa e responsável pelo mesmo trajeto em anos anteriores.
2) A ÚLTIMA MÚSICA
Em diversos filmes sobre o Titanic, o grupo de música é mostrado tocando o hino cristão “Nearer, My God, To Thee (Mais perto, meu Deus, para Ti)”. Até hoje não se sabe se era realmente essa a canção que os instrumentistas do transatlântico tocavam no momento do naufrágio. Pode-se dizer que a origem do mito tenha sido o Jornal Daily Mirror (da Inglaterra), que afirmou que eles estavam a tocar a canção enquanto o barco afundava numa tentativa de romantizar o acontecimento. Em 1958, o filme “A Night to Remember” mostrou o naufrágio do Titanic ocorrendo com a já mencionada canção. James Cameron achou a sincronia entre música e imagens perfeita e decidiu utilizar à mesma idéia no seu filme. Há duas diferenças básicas nas versões: a de 1958 mostra os músicos cantando até o momento em que a água começa a arrastá-los; enquanto na de 1997, eles tocam uma versão instrumental de “Nearer, My God, To Thee”, que é interrompida quando um dos violinistas diz: “Senhores, foi um privilégio tocar convosco esta noite”.
3) O CAPITÃO SMITH NÃO FOI UM HERÓI
Todos os filmes mostram o capitão Smith como um verdadeiro herói no naufrágio. Há, inclusive, histórias de que após o afundamento completo do Titanic, foi visto nadando com uma criança nos braços para salvá-la da morte. Segundo o site da BBC, há várias estátuas erguidas em sua homenagem na Inglaterra. Mas o que dizem alguns especialistas sobre o naufrágio é que todo o heroísmo e esforços para salvar os passageiros pode não ter sido tão real assim. Nos primeiros minutos após o acidente, botes de salvamento com espaço para 65 pessoas abandonaram o navio com menos de 30 pessoas e não retornaram para salvar outras vítimas. Paul Lounden-Brown, da Sociedade Histórica Titanic, diz que o único culpado pelo acidente é o Capitão e nenhuma outra pessoa da cabine de comando pode ser responsabilizada. Uma de suas decisões mais equivocadas foi não ter avisado a todos os passageiros que havia acontecido um acidente. O pesquisador afirma que a ordem de abandonar o navio nunca foi dada. Por isso, é muito provável que centenas de pessoas tenham morrido sem nem ao menos ficarem a saber que tinha acontecido um acidente. John Graves (do Museu Marítimo Nacional, em Londres) diz que Smith pode ter entrado em choque por não possuir um plano de evacuação, por isso não conseguiu tomar qualquer decisão importante.
4) J. BRUCE ISMAY: O EMPRESÁRIO VILÃO
Filmes sobre o naufrágio costumam mostrar J. Bruce Ismay – o presidente da White Star Line – como um homem covarde que abandonou o Titanic no primeiro bote salva-vidas a ser lançado no mar. A origem do mito pode ter sido outro acidente com um navio da White Star, quando o próprio Ismay recusou-se a cooperar com William Randolph Hearst, um grande magnata da imprensa norte-americana. Depois do acidente com o Titanic, Hearst pode ter se aproveitado para acusar Ismay como forma de vingança. Muitos dos jornais ligados ao magnata o chamavam de J. Brute Ismay (um trocadilho com o seu nome, o acusando de ser um animal irracional), o que contribuiu bastante para que a imagem de covarde fosse proliferada. Os especialistas consultados pela BBC afirmam que há vários relatos de sobreviventes que foram ajudados por Ismay, antes que ele pudesse colocar-se nos botes para salvar sua vida. Mesmo assim, a imprensa continuou acusando o presidente da White Star Line. Em 1913, ele se afastou da companhia, falido.
5) A TERCEIRA CLASSE FOI ABANDONADA PARA A MORTE
Nos filmes que mostram o naufrágio do transatlântico, a terceira classe é mostrada de maneira completamente separada das outras – e isso fica mais claro na versão de James Cameron, em que há destaque para personagens de lá. Os portões de separação realmente existiam, não para evitar que eles pudessem entrar nos botes, mas para o cumprimento de normas sanitárias dos Estados Unidos. Como no navio havia muitos imigrantes que queriam tentar uma nova vida na América, o Titanic teria que parar em Ellis Island para que houvesse uma inspeção sanitária e burocrática dos passageiros (que vinham de países como China, Holanda, Itália, Armênia, Rússia, Escandinávia e Síria). E para evitar que qualquer doença fosse transmitida às demais pessoas, havia a separação, respeitando normas dos Estados Unidos. A terceira classe possuía os seus próprios botes salva-vidas, mas para chegar até eles seria necessário percorrer uma série de corredores que mais se pareciam com labirintos. Por isso, muitos acabaram afogados dentro do navio. Também há várias evidências de que, ao chegar ao local onde deveriam estar os botes, muitos deles já tinham sido levados para o mar. Nas conclusões finais do inquérito sobre o naufrágio, foi constatado que “não existiram evidências de que houve alguma tentativa de deixar, deliberadamente, os passageiros da terceira classe morrerem“. Vale lembrar que a maior parte das mortes ocorreu entre passageiros da terceira classe e tripulação: de 1.616 pessoas, apenas 394 se salvaram.
Fonte: BBC.