A TROCA DE NAVIOS
Por Leandro Steiw na Revista Super Interessante
Titanic é o Olympic: o navio que não estava lá!
TEORIA - O Titanic não foi a pique em 1912.
OBJETIVO - A companhia de navegação trocou de navio por causa do seguro.
O plano era genial: afundar um sósia do Titanic, resgatar os passageiros e receber o dinheiro do seguro. Mas faltou ensaiar melhor...
Na virada de 14 para 15 de abril de 1912, o navio inglês Olympic bateu num iceberg e naufragou nas águas geladas do Oceano Atlântico, matando 1 500 pessoas, no pior desastre marítimo de todos os tempos. Não, você não leu errado. A maior tragédia marítima da história não acabou com o Titanic, mas sim com o Olympic, o navio gêmeo da companhia de navegação White Star Line. Pelo menos é o que acreditam os defensores da teoria conspiratória envolvendo as duas embarcações, entre eles o britânico Robin Gardiner, autor dos livros The Titanic Conspiracy: Cover-ups and Mysteries of the World·s Most Famous Sea Disaster (A Conspiração Titanic: Acobertamentos e Mistérios do Mais Famoso Desastre Marítimo do Mundo) e Titanic: The Ship that Never Sank (Titanic: o Navio que Nunca Afundou), ambos sem versão em português.
A história é a seguinte: a White Star Line teria trocado os nomes dos seus transatlânticos para destruir, intencionalmente, o Olympic, que havia sofrido sérios danos depois de colidir com o cruzador HMS Hawke, em setembro de 1911. Como o Olympic não estava no seguro, a empresa teria armado um plano diabólico: trocar as identificações dos dois navios, enviar o Olympic travestido na estréia do Titanic, afundá-lo em local seguro, resgatar passageiros e tripulantes e receber a indenização contratada para o Titanic. Daí por diante, o verdadeiro Titanic seguiria carreira como Olympic. Genial, não? Mas, como se sabe, deu tudo errado.
Os adeptos da teoria apontam diversas evidências de que o naufrágio foi premeditado. A primeira é que o milionário J. P. Morgan, um dos sócios da White Star Line, desistiu de embarcar no Titanic às vésperas da viagem. Na época, ele justificou o cancelamento como superstição em relação a viagens inaugurais. Morgan também teria suspendido o envio de obras de arte nos porões do Titanic. Por que o dono do navio "praticamente ·inafundável·" - como era anunciado - perderia a viagem histórica do então maior transatlântico do mundo? A tese conspiratória diz que Morgan e seu sócio J. Bruce Ismay foram os autores do plano. O motivo? Grana, é claro. A White Star Line enfrentava dificuldades financeiras por causa da concorrência da Cunard Line, cujos navios Lusitania e Mauretania dominavam as linhas marítimas desde 1907. Em caso de acidente com o Titanic, a seguradora pagaria 750 mil libras, valor que cobriria as perdas com a colisão do Olympic e ainda deixaria a empresa com um navio novinho em folha para ligar a Europa aos Estados Unidos.
Para simular um acidente desse porte, os empresários precisariam da colaboração do capitão do Titanic, Edward J. Smith. O roteiro era perfeito. O Titanic afundaria ao final do quinto dia de viagem, próximo à costa americana. Assim, a tripulação teria tempo de enviar um sinal de socorro e esperar o resgate. Todos seriam salvos. Se Smith não soubesse do plano, dizem os defensores da teoria, como ele cometeria um erro tão primário, deixando o Titanic navegar a alta velocidade em uma região rodeada de icebergs? Ainda mais que Smith comandava o Olympic na ocasião do incidente com o HMS Hawke e poderia se sentir em dívida com os patrões. Os mais radicais afirmam que ele recebeu uma generosa mala de dinheiro. O que Morgan e Ismay não esperavam é que o acidente acontecesse 24 horas antes do combinado, por precipitação de Smith. Talvez porque o capitão tenha sido obrigado por Ismay a acelerar o Titanic, para mostrar aos passageiros e à imprensa o potencial do novo transatlântico - versão contada pelo diretor James Cameron no filme Titanic, com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Nesse caso, foi o próprio magnata quem colocou tudo - literalmente - por água abaixo.
BAILE DE NAVIOS
Nas suspeitas de Gardiner, havia mais gente envolvida na farsa. O capitão Stanley Lord, outros dos conspiradores, ancorou o navio mercante Californian no local combinado, no Atlântico Norte. Quando o Titanic batesse no iceberg, foguetes coloridos anunciariam a hora de Lord simular o socorro ao transatlântico inglês. Só que outra embarcação estava na rota do acidente e foi abalroada pelo Titanic, pondo os dois a pique. Isso mesmo. Segundo Gardiner, o Titanic não se chocou contra um bloco de gelo, mas contra um dos barcos de resgate contratados para a trama. Esse terceiro navio - jamais identificado, para não revelar o plano da White Star Line - estava com as luzes apagadas e não foi avistado pela tripulação do Titanic. Assustados com a colisão inesperada, os oficiais ingleses mudaram a trajetória para o sul, afastando-se do Californian, estacionado ao norte, e não responderam aos foguetes brancos disparados pelo barco de resgate. Para piorar, um quarto navio - que nada tinha a ver com a história - passou perto do Titanic naquela hora. O capitão Smith achou que era o Californian vindo salvá-lo e não acionou os foguetes. Resultado dessas tristes coincidências: o acidente causou um rombo no casco, o Titanic afundou longe demais do ponto de encontro e o resgate atrasou.
Nem tudo nesse enredo macabro são meras suposições. Os sobreviventes realmente viram luzes próximas ao local do desastre, que tanto poderiam ser do Californian quanto daquele desconhecido quarto navio. Outra teoria diz que as luzes seriam de um submarino alemão que seguia o Titanic. De fato comprovado, sabe-se que 706 passageiros foram salvos pelo navio inglês Carpathia, da concorrente Cunard, que navegava a 96 quilômetros do Titanic. O Carpathia chegou antes do Californian, distante 31 quilômetros do local do naufrágio.
Em sua sede por dinheiro, os conspiradores deixaram outras pistas. Havia pressa em trocar os objetos da verdadeira para a falsa embarcação, já que o dia do lançamento do Titanic se aproximava. Um dos erros é fato: o Titanic zarpou com botes salva-vidas a menos. Ninguém precisaria usá-los, pois a intenção dos empresários era naufragar o navio perto das equipes de socorro. Pará comprovar a teoria, só falta atar o último nó da trama: como os donos da White Star Line conseguiram transformar o Olympic num falso Titanic? Os funcionários da Harland & Wolff, construtora dos navios, na Irlanda do Norte, compactuaram com o golpe? Para a Titanic Historical Society, a suposta conspiração surgiu por um erro da imprensa. Como existiam poucas fotografias do Titanic, os jornais ilustravam as matérias sobre o desastre com imagens do Olympic. Não teria demorado para alguém considerar o erro um complô. A sociedade histórica, evidentemente, discorda da versão alternativa.