quinta-feira, dezembro 24, 2009

JONES E A CONDESSA DE ROTHES
Nesta época é inevitável recordar-me uma história registada no livro de Walter Lord, A Tragédia do Titanic. Thomas Jones e a Condessa de Rothes... O que à partida poderia haver em comum entre uma senhora da mais alta sociedade, passageira de primeira-classe e um mero marinheiro das classes mais baixas na sua época? Jones era marinheiro de convés, tinha 32 anos, o capitão ordenou que ele ficasse com o bote 8, ele presenceou as mulheres se recusando a embarcar, inclusive a Sra e o Sr Strauss. O bote 8 foi descido com ele, três criados de bordo e cerca de 35 mulheres, entre essas mulheres estava a Condessa de Rothes e a sua prima Gladys Cherry, Mary Young, Mrs. F. Joel Swift e outras que remavam na água escura do oceano. Mrs. William R. Bucknell verificou com orgulho que, enquanto remava perto da condessa de Rothes, um pouco mais adiante, a sua criada remava junto da criada da condessa. A condessa manobrava o leme. Mais tarde, o marinheiro Jones, responsável pelo barco, explicou ao jornal "The Sphere" a razão que o levara a encarregá-la daquela tarefa: "No meu barco havia uma mulher notável; quando vi a forma como se comportava e ouvi a forma enérgica a calma como falava às outras, compreendi que ela valia mais do que qualquer dos homens que tínhamos a bordo".
À Comissão de Inquérito americana, talvez por lhe faltar a ajuda da impressa, Jones descreveu a situação em frases menos elegantes:
Senador: "Pode indicar-me os nomes de alguns passageiros no seu bote?"
Jones: "Uma senhora... Ela estava sempre a dar opiniões, de modo que a pus a conduzir o barco".
Senador: "Qual era o seu nome?"
Jones: "Lady Rothes, ela era Condessa ou qualquer coisa do genero."
Apesar disso, não havia dúvidas do que ele pensava acerca dela. Após o afundamento, ambos queriam voltar atrás para resgatar alguém com vida, mas as restantes mulheres se recusaram a fazê-lo. Jones sentiu grande admiração pelo pulso firme com que a Condessa reagiu à situação, incentivando as outras mulheres a remar. De tal forma que um tempo depois ele retirou o númeral "8" do bote salva-vidas e ofereceu-o à Condessa numa moldura como prova de admiração, ela e sua prima por sua vez todos os natais lhe escreveram uma carta. Uma dessas tornou-se conhecida, foi escrita pela prima da condessa no Great Northern Hotel, New York:
"Sinto que devo escrever e dizer-lhe como assumiu de forma explendida o comando do nosso barco naquela fatídica noite. Havia somente quatro pessoas inglesas, a minha prima Lady Rothes, a sua empregada, você e eu, e eu acho que você foi maravilhoso. O que eu terrivelmente lamentarei, e eu sei que você partilha da mesma opinião que eu, é que deveríamos ter voltado atrás para ver quem poderiamos salvar, mas se você se lembrar, havia apenas uma senhora americana, a minha prima, eu e você que queriamos retornar. Eu não conseguia ouvir a discussão de forma muito clara, porque eu estava no leme, mas todos a minha frente e os três homens se recusaram, mas vou sempre lembrar-me das suas palavras: "Senhores, se qualquer um de nós sobreviver, lembre-se, eu queria voltar. Preferia afogar-me com eles do que deixá-los." Você fez tudo que podia, e sendo meu conterrâneo, eu queria dizer-lhe isso.
Sinceramente, Gladys Cherry."
Se o Titanic partiu de Southampton separando classes, após o seu naufrágio ele as uniu.

1 comentário:

Alencar Silva disse...

Ahhhh como eu queria este número 8 na moldura, hehehe...

De fato a relação de amizade entre os dois após o acidente, foi e é admirável.

Excelente post, parabéns...