segunda-feira, junho 30, 2008

Os Duff-Gordon

 OS DUFF GORDON
O casal de britânicos Sir Cosmo e Lucy, Lady Duff-Gordon, foram dos passageiros que atraíram maior atenção mediática e continuam a ser alvo de interesse por parte de historiadores e entusiastas da saga do Titanic. Sir Cosmo era um notável desportista, que tinha representado o Reino Unido na modalidade de esgrima nos Jogos Olímpicos de Londres de 1908, e um conhecido propriétário rural na Escócia. Tinha um particular interesse e talento para as artes de auto-defesa, tendo treinado com o famoso pugilista suíço Armand Cherpillod no exclusivo Bartitsu Club de Londres, do qual era um ávido frequentador. Sir Cosmo era detentor do título de barão Halkin e a sua família possuía uma companhia de vinhos de elevada qualidade em Espanha. No entanto, Duff-Gordon saltou para a ribalta após o desastre do Titanic, quando surgiram rumores de que este tinha manipulado a tripulação do bote nº1 de modo a não regressassem para recolher os sobreviventes que se debatiam nas águas geladas, tendo até sido sugerido que Cosmo teria oferecido dinheiro aos tripulantes para que estes guardassem segredo acerca do assunto. Apesar de tudo, quando Sir Duff-Gordon testemunhou na Câmara Britânica do Comércio, no subsequente inquérito para apurar as responsabilidades do naufrágio, o seu discurso mostrou-se mais coerente e consistente do que o da sua esposa. Lady Lucy Duff-Gordon tinha um passado bem antagónico. Nasceu em Londres mas cresceu no Canadá. A sua irmã mais nova, Elinor Glyn, era uma controversa autora de livros de ficção erótica. Em 1884, Lucy casou com James Stuart Wallace, de quem teve um filho. O divórcio, altamente condenado à época pela conservadora sociedade vitoriana, sobreveio seis anos depois. De maneira a sustentar-se, Lucy abriu uma casa de costura na capital britânica. Isto seria o primeiro passo para o negócio que se iria transformar num dos maiores impérios de alta costura do início do século XX. Em 1900, depois de se casar com Sir Cosmo Duff-Gordon, rebaptizou a sua empresa para Maison Lucille e passou a ter uma clientela requintada, que incluía os altos círculos da aristocracia britânica e a própria realeza. Lucy ganhou fama devido às suas criações de roupa interior atrevida e de vestidos de noite pouco convencionais, tendo servido a rainha de Inglaterra, a rainha da Roménia e muitas das estrelas de Paris e Hollywood da altura. Fabricou ainda o vestuário de muitas das peças teatrais em voga no West End e os críticos da moda atribuem-lhe a criação dos primeiros desfiles de alta costura. Lucy escrevia ainda artigos sobre moda para as colunas sociais das revistas Tatler e Harper's Bazaar. Rapidamente abriu filiais das suas lojas em Paris, Nova Iorque e Chicago. Aliás, quando os Duff-Gordon embarcaram no Titanic em Cherbourg, Lucy tinha sido chamada ao outro lado do Atlântico por causa do negócios. Lady Duff-Gordon carregava, até certo ponto, uma dose de excentricidade, pois não era comum uma senhora de classe alta possuir um emprego à época, quanto mais criar um dos maiores impérios comerciais de moda, como Lucy fez. Era irónico, de certo modo, o facto de Duff-Gordon ser a estilista oficial da realeza britânica quando lhe era barrada a passagem em Buckingham, por ser divorciada.
Meses antes da viagem inaugural de Abril de 1912, os Duff-Gordon tinham ido passar uma temporada à sua mansão de Paris e pelo Natal de 1911 andavam a passear de gôndola em Veneza. Pouco se sabe das actividades do casal ao longo da curta estadia a bordo do maior navio do mundo, à excepção das suas acções na trágica noite da catástofre, que levantaram muita polémica. Contudo, não devem existir dúvidas que Lucy deve ter feito um sucesso ao envergar as indumentárias do último grito da moda. Só a título de curiosidade, Lady Duff-Gordon transportava consigo um colar de pérolas avaliado em 50 mil libras, que se perdeu quando o Titanic afundou.

domingo, junho 29, 2008

PARTO A BORDO
Entre as 29 deleted scenes colocadas na edição de lux do Titanic temos esta imagem de uma passageira grávida com a sua filha na terceira-classe. Seria a passageira Gerda Lindell que não sobreviveu. Cameron até esse cuidado teve nas suas gravações. Muitas mulheres emigrantes na época, escolhiam viajar quando estavam em fase final de gravidez para que pudessem ter os seus filhos a bordo em melhores condições de higiene no parto, condições essas que dificilmente teriam em terra com a vantagem ainda acrescida de que era um serviço gratuito com a qualidade e tecnologia de ponta. Não era portanto de se espantar que algumas dessas mulheres que tinham os seus filhos a bordo baptizassem os seus recém-nascidos com o nome do médico ou da enfermeira de bordo ou até lhes dessem o próprio nome do navio. Contam-se 2208 pessoas a bordo do Titanic, dentro deste número encontravam-se algumas mulheres grávidas, algumas destas crianças quando nasceram já não tinham os seus pais porque eles foram para o fundo com o navio juntando-se assim ao número de orfãos de pai do Titanic. Outras, infelizmente, contaram-se entre as vítimas cujas mães mesmo grávidas não tiveram lugar num bote para sobreviverem perecendo com elas os seus filhos dentro das suas barrigas. Sendo assim o número de mortes do Titanic tem por trás ainda o acréscimo desta terrível marca que passa quase despercebida. Aqui fica a lista de mães grávidas a bordo, os nomes a branco são das mulheres que pereceram:

Astor, Madeleine 1ªclasse
Backstrom, Maria 3ªclasse
Beane, Ethel*(ver nota) 2ªclasse
Bishop, Helen 1ªclasse
Corey, Mary 2ªclasse
del Carlo, Argene 2ªclasse
Doling, Ada 2ªclasse
Karnes, Claire 2ªclasse
Kenyon, Marion*(ver nota) 1ªclasse
Laroche, Julliette 2ªclasse
Lindell, Gerda 3ªclasse
Marvin, Mary 1ªclasse
Nasser, Adele*(ver nota) 2ªclasse
O'Brien, Hannah 3ªclasse
Phillips, Kate*(ver nota) 2ªclasse
Smith, Mary Eloise 1ªclasse
West, Ada 2ªclasse

*Nota: Ethel Beane e Kate Phillips conceberam os seus bebés ainda durante a viagem inaugural a bordo do Titanic. No caso de Ethel Beane, infelizmente veio a dar à luz um bebé morto. Marion Kenyon veio a abortar. Adele Nasser deu à luz mas o bebé veio a morrer poucas horas depois. A 11 de Janeiro de 1913, Kate Phillips tem uma menina a quem dá o nome de Ellen Mary (Betty). Kate Phillips era a amante de Henry Samuel Morley, homem casado e pai de um filho com quem ela fez a travessia em segunda-classe. Eles viajaram em secreto com os nomes falsos de Mr e Mrs Marshall.

domingo, junho 22, 2008

SORRISO NA ESCURIDÃO
Uma das imagens mais marcantes do filme Titanic é sem dúvida a face de uma boneca sorrindo no meio de destroços do naufrágio. Essa face encontra-se de verdade no Titanic e quando os homens da expedição de Robert Ballard depararam-se com aquela imagem levaram um grande susto. A face da boneca, segundo especialistas, é feita de porcelana e pertencia a uma boneca de origem francesa ou alemã de olhos verdes cujo corpo era flexível permitindo a cabeça rodar, tornando-a assim mais real. A boneca teria uns 60cm de tamanho valendo mais ou menos 40 dólares um preço considerável para 1912. Certamente esta boneca pertenceria a alguma menina de primeira-classe talvez fosse da pequena Lorraine Allison a única criança de primeira-classe a morrer no Titanic, ou talvez da jovem Eva Hart de segunda-classe que assim como na foto passava os dias brincando com a boneca na sala das crianças. Outra hipótese colocada vem do facto da face da boneca estar próxima à popa do navio, local onde muitos passageiros de terceira-classe se encontravam nos momentos finais do navio. A passageira sueca de terceira-classe Elin Ester Maria Braf de 20 anos, que ia visitar a sua irmã a Chicago fazia-se acompanhar de uma amiga Helmina Josefina Nilsson. Elin ao embarcar fez questão de separar da sua bagagem e levar consigo para o camarote, uma boneca de porcelana para oferecer a sua sobrinha Mabel. Após a colisão com o icebergue Helmina subiu imediatamente para o convés, enquanto Elin ficou a arrumar alguns pertences numa mala. Helmina embarcou no bote 13, enquanto Elin que tinha medo de embarcar em barcos pequenos ficou para trás acabando por morrer no naufrágio. O corpo de Elin nunca foi encontrado. Provavelmente nunca saberemos a quem pertenceu a boneca, mas todos estes objectos de crianças dão testemunho da vida a bordo daquele que foi o maior e o mais luxuoso navio de sempre.

domingo, junho 15, 2008

CRIANÇAS NO TITANIC III

UMA PARTIDA DIVERTIDA
Washington Dodge Jr tinha apenas 4 anos seis meses e 23 dias quando o Titanic afundou. Nascido em San Francisco no dia 23 de Setembro de 1907, era o único filho entre o Dr. Washington Dodge e Ruth Vidaver Dodge, contudo o seu pai tinha um outro filho nascido em 29 de Novembro de 1891 de um primeiro casamento, chamado Henry, que veio a falecer em Agosto de 1967 em San Francisco, do mesmo modo a sua mãe Ruth também já tinha sido casada anteriormente do qual tinha uma filha chamada Vida, nascida em 1900 e que veio a falecer em 1990 em Nova Iorque. O pequeno Washington Jr estava no mesmo camarote que os seus pais, A-34, e passava os dias a brincar com berlindes (bolinha de gude) de argila. Na noite do naufrágio ele e a sua mãe embarcaram no bote 5. O seu pai ficou no Titanic, só conseguindo embarcar mais tarde no bote 13. A chegada ao Carpathia foi agonizante devido em parte a uma partida do próprio pequeno Washington, o Dr. Dodge não deu pela entrada da mulher e do filho no convés e procurava por notícias da esposa e do pequeno filho que tinha ajudado a embarcar, e Ruth Dodge não viu o marido no convés e procurava saber dele desesperadamente, mas o pequeno viu-o, e decidiu que não dizer nada seria uma boa piada. Não disse nada à mãe e escondeu-se do pai. Foi preciso que o criado Ray sempre fiel a bordo do Titanic lhe estragasse o jogo e acabasse por reunir a família. Família essa que iria ficar despedaçada em 1919. Na noite de 21 de Junho desse ano o seu pai tenta o suicídio devido a calúnias e dívidas, disparando contra si mesmo um tiro de revólver, essa semana foi muito difícil para o jovem agora com apenas 12 anos, as notícias do estado de sáúde do seu pai eram notícia diária nos principais jornais de São Francisco, os médicos já tinha feito tudo o que podiam, passados dias foram informados que não haveria recuperação e grandes esperanças, depois souberam que não mais iria recuperar do coma profundo, e por fim que estava morrendo lentamente, acabou por sucumbir aos ferimentos no dia 30 de Junho, 9 dias depois do disparo. Washington Dodge Jr. casou-se duas vezes primeiro com Helen Hubbard e mais tarde com Helen Brown nascida em 10 de Julho de 1904 e faleceu em Julho de 1983. Ele foi pai de três filhos, Jonathan, Kent e Arthur. Todos eles ainda são vivos. Washington veio a falecer em 3 de Dezembro de 1974 de ataque cardíaco.

sábado, junho 07, 2008

CRIANÇAS NO TITANIC II


POLAR O URSO DO TITANIC 
"Oh mamã, olha o Pólo Norte, sem o Pai Natal!" - disse o pequeno Robert Douglas Spedden para a sua mãe, no bote 3 no meio do nada entre gelos à deriva. Com apenas 6 anos ele nem poderia adivinhar como essa frase iria ter um grande significado. O pequeno Robert nasceu em 19 de Novembro de 1905 em Nova Iorque, e era o único filho de Frederic Oakley Spedden e Margaretta Corning Spedden mais conhecida por Daisy. A família Spedden vivia em Toxedo, Nova Iorque e no final de 1911 decidiu fazer uma viagem até a Argélia no navio Caronia acompanhados da criada Helen Wilson e da ama de Robert, Elizabeth Burns a quem o pequeno chamava de Muddie Boons por não conseguir pronunciar o seu nome.

Da Argélia a familia foi para Monte Carlo e por fim Paris. Em Abril de 1912 embarcaram em Cherbourg no Titanic, e o pequeno Robert com a sua ama ficaram alojados no camarote E-40. A bordo do Titanic foi fotografado no dia 11 de Abril pelo Padre Brown a jogar ao peão com o seu pai por perto, pouco antes do Titanic chegar a Queenstown. Quando o Titanic bateu no icebergue, a sua Muddie Boons acordou-o carinhosamente dizendo-lhe que iam dar um passeio de barco para ver as estrelas, a sua mãe colocou-lhe nos braços o seu urso de peluche a quem deram o nome Polar e que o tinha acompanhado pelas férias no Mediterrâneo. Já no bote acabou por adormecer agarrado ao Polar e já só acordou ao amanhecer quando se deparou com os primeiros raios de sol rosados e todos aqueles icebergues. É natural que com aquele cenário tenha proferido aquela frase caricata. Quando subiu a bordo do Carpathia o seu pequeno urso Polar ficou para trás no bote 3. Para o consolar da perda de seu inseparável amigo, a sua mãe comprou outro urso na lojinha de lembranças do Carpathia. Contudo o Polar não estava perdido, quando o bote 3 foi içado para o convés do Carpathia, o urso caiu no convés e um marinheiro sobrevivente do Titanic reconheceu o urso e foi devolvê-lo ao seu dono, Robert. Desde então nunca mais o largaria. Em 1913, Daisy escreveu uma história para oferecer no Natal ao pequeno Robert. "My Story" (Minha História) era contada através dos olhos do seu urso polar de brinquedo, e descrevia o seu fabrico, a loja onde passou até ser comprado pela família Spedden, a sua viagem pela Europa, a viagem no Titanic em que Douglas Spedden ficava no cimo da entrada para a grande escadaria, e simplesmente largava o seu pequeno urso pelo fosso das escadas, vendo-o cair os cinco conveses abaixo até ao deque E, depois descia rapidamente os cinco andares para ir buscar o seu urso, voltava a subir até ao convés A e repetia a façanha de novo,  o afundamento do Titanic e o resgate das águas.
A tragédia não bateu à porta da família Spedden no Titanic, mas sim em 1915... No Verão de 6 de Agosto, uma sexta-feira, junto da casa de campo em Grindstone Neck, Winter Harbor, Robert ia atravessar a rua para recuperar a sua bolinha de ténis que saltou quando uma camionete a caminho de Bar Harbor, perto de Maine, o atropelou. O chauffeur, Foster Harrington, que não conseguiu evitar um dos primeiros desastres de carro naquele Estado norte americano, pegou nele inconsciente e levou-o até sua casa. No dia seguinte Douglas recuperou a consciencia, mas devido aos traumatismos do embate, acabou por falecer pela manhã de Domingo, 8 de Agosto de uma hemorragia cerebral. Foi sepultado em Toxedo, onde nasceu. Em 1982, um primo dos Spedden descobriu uma mala fechada e no seu interior encontrava-se o conto manuscrito por Daisy, e dessa forma em 1994, o livro My Story foi editado pela Little Brown & Co. para o grande público com o título "Polar, The Titanic Bear" (Polar, o Urso do Titanic).

domingo, junho 01, 2008

CRIANÇAS NO TITANIC

A HISTÓRIA DO URSO GATTI
Hoje pelo mundo inteiro várias crianças desfrutam de um dia totalmente dedicado a si, o Dia Mundial da Criança. Devemos lembrar-nos também daquelas que nem sequer poderão usufruir deste dia, por serem escravos de adultos dotados de pouca inteligência que as maltratam ou as obrigam a trabalhos forçados. A melhor forma de lembrar as crianças de todo o mundo, é demonstrando casos de verdadeiro amor de crianças ligadas de alguma forma ao Titanic e contar as suas histórias tão maravilhosas ao longo do mês de Junho. Das 127 crianças a bordo do Titanic compreendidas entre os 2 meses de vida e os 14 anos de idade, apenas se salvaram 63, pouco menos de metade... A primeira história que aqui contamos é a de um menino chamado Vittorio Gatti, ele não estava no Titanic como as outras 127 crianças mas o seu pai, Luigi Gatti de 36 anos, estava e pereceu no Titanic. Mas o amor que Vittorio tinha por seu pai sem saber ajudou a que se identificasse o seu corpo. Luigi era o gerente de 68 pessoas do restaurante à la carte do Titanic. Pouco antes do grandioso navio partir de Southampton, o pequeno Vittorio deu ao seu pai um pequeno urso de peluche da fábrica alemã Bing. Quando o corpo de Luigi foi resgatado pelo navio Minia descobriram num dos bolsos do seu capote o pequeno urso que assim contribuiria para identificar o corpo como sendo o seu pai. Este urso, que era chamado de urso Gatti foi devolvido ao seu filho novamente pouco depois. A descoberta deste urso foi muito referenciada pela imprensa da época e as vendas de ursos de peluche inventados pelo alemão Richard Steiff em 1902, disparou em flecha tendo até produzido um modelo especial para o naufrágio do Titanic, o Mourning Bear. O urso foi mais tarde para o museu de Ribchester em Inglaterra, onde permaneceu até 1995 quando o museu fechou e foi vendido em leilão a um coleccionador por 9000£.