segunda-feira, abril 13, 2009

AS MINHAS MEMÓRIAS NO TITANIC
O pequeno-almoço, servido no camarote, devia respeitar a privacidade dos passageiros, permitindo-lhes desfrutar de uma acolhedora intimidade, sem necessidade de se deslocarem à sala de jantar. Estas atenções eram motivo de fidelidade dos passageiros à companhia. Os que já tinham realizado uma travessia estabeleciam laços de amizade com o pessoal de bordo que a companhia costumava manter no mesmo navio para conseguir este objectivo. Assim, por exemplo, sucedia que um passageiro habitual não tinha necessidade de pedir nada quando se sentasse à mesa, porque lhe serviam logo a sua bebida preferida, com aquela atenção discreta e constante que o envolvia calorosamente.
Os meus pais passearam-se no convés, iria ser uma tarde histórica para o Titanic e para nós...
Harriett - Importa-se de me passar o chá?
Lady Gordon - E o que dizer de Matah Hari!?
Harriett - O mundo está perdido!
Lady Gordon - Este e o outro.
As senhoras davam risadas pequenas, a minha mãe estava sentada junto com elas quando chegámos. Ela estava atenta numa outra conversa que decorria mesmo ao seu lado.
Capt. Smith - Sr. Ismay, disseram-me que discutiu o comando do navio em Queenstown com a minha tripulação.
Ismay - Sim, no tocante à velocidade. É um direito meu como director. Ainda não acendeu as últimas quatro caldeiras.
Capt Smith - Não vejo necessidade. Vai tudo bem. As máquinas estão a aguentar-se e as caldeiras também. O navio mantem-se firme, e temos energia de sobra. Estamos a fazer um tempo excelente!
Ismay - A imprensa conhece o tamanho do Titanic. Quero que fiquem maravilhados com a sua velocidade. Temos de lhes dar algo novo para publicarem. A viagem inaugural do Titanic tem de vir nos cabeçalhos!
Capt Smith - Sr. Ismay, preferia não forçar os motores até estarem suficientemente rodados. Estava a pensar numa coisa diferente para o Titanic?
Ismay - Claro que não. A companhia tem a maior confiança no senhor. Sou apenas um passageiro. O senhor decide como quiser. Mas seria um final glorioso para si chegar a New York na terça à noite e surpreende-los. Sairia nos jornais da manhã. Era uma retirada em beleza, não acha? Muito bem.
Eu ouvi o senhor Ismay. Foi o senhor Ismay que falou. Ouvi-o falar da corrida. Ouvi:
Ismay - Hoje fizemos melhor que ontem, amanhã faremos uma corrida melhor.
E depois ouvi-o afirmar:
Ismay - Vamos bater o Olympic e chegaremos a New York na terça-feira à noite.
Capt Smith - Não vejo qual o interesse de chegarem um dia mais cedo.
Ismay - E eu não vejo qual o interesse de demorar o tempo dum navio inferior.
Capt Smith - Se houver discussões quanto ao comando do navio, consultem-me. Pode ser a minha última viagem, mas ainda sou o comandante.
Após o jantar, como era habitual, fomos para a Palm Court, para o café do costume onde ouvimos a maravilhosa música tocada pela banda do Titanic. Nesta ocasião o traje era a rigor, e o facto de haver tantas mulheres bonitas, especialmente nestas alturas, isso era evidente. Era objecto de observação e admiração. Da Palm Court, os homens do círculo do meu pai passavam sempre para a Sala de Fumo e quase todas as noites se punham à conversa com alguns dos homens famosos que lá conheciam, tais como o Major Archie Butt (o título militar do presidente Taft) a falar de política ou com o Frank Millet (o famoso artista) a planear uma viagem ao ocidente.
Acabado o concerto, muitos ficaram longo tempo nos salões e corredores. Ninguém tinha pressa para ir dormir.
Tudo tinha sido concebido até ao ínfimo pormenor para tornar mais cómoda e agradável a travessia. Para os fumadores tinham sido fabricadas caixas especiais de cigarrilhas «Titanic».
In "Eu sou um sobrevivente do Titanic" para ler o livro inteiro clique aqui

1 comentário:

Alencar Silva disse...

Devia ser maravilhoso dias assim a bordo...