terça-feira, abril 04, 2006

TITANIC
Lightoller - Porque é que não foste, Hemming?
Hemming - Ainda há tempo.
Lightoller - Há por aí algum marinheiro?
John - Não, é melhor ficarmos todos juntos.
Murdoch - Onde estão todos?
- Ainda estão todos à popa.
Lightoller - Por favor, para trás! Para trás! Só mulheres e crianças! Para trás! Eu disse para trás! Venha minha senhora. Para trás!
George - Temos de o pôr no bote. Arthur, fique com o Richard. Eu e o John vamos ver do outro lado. Continue a forçar para ele entrar.
Capt. Smith - Quantos barcos restam?
Murdoch - Dois e dois desmontáveis.
Capt. Smith - Certifique-se de que levam o máximo de pessoas.
Murdoch - Deixem passar as crianças.
Capt. Smith - Não podemos mandar outro barco meio vazio.
Murdoch - Há mais mulheres? É o último barco. Não se podem dar ao luxo de escolherem. Há mais senhoras? Avancem.
- Sigam-me. O caminho para o salva-vidas é por aqui.
Dorothy - Edward, olha! Prata verdadeira! Linho verdadeiro!
Edward - Se o que dizem dos Estados Unidos é verdade, vamos viver assim dentro em pouco.
Dorothy - Vamos.
T. King - Que é isto? Como entraram aqui? Então é isso que vocês fazem? Sou o Mestre-de-Armas. Serei muito duro com vocês se tiver desaparecido alguma coisa. E todas as salas de primeira classe estão fechadas. Não consinto pilhagem no navio.
Dorothy - Pilhagens? Estávamos só a ver isto. Tentávamos chegar ao salva-vidas? É por aqui?
T. King - Não têm nada com isso. Voltem por onde vieram e depressa. Não deviam estar aqui.
Edward - Deixe pelo menos as mulheres passarem.
T. King - Está bem. Só as mulheres.
Dorothy - Por favor. Deixe-o vir comigo. Sem ele não sei se sobrevivo.
T. King - Passem, depressa.
Murdoch - Há mais mulheres aí? Não há mais mulheres? Pode ser a última oportunidade. Há mais mulheres e crianças?
Ismay - Estão todos a bordo.
Murdoch - Mais alguém? Mais alguém?
Ismay - Pronto. Óptimo. Muito bem.
Murdoch - Preparar para baixar. Prontos à esquerda. Para baixo. Baixem-nos. Devagar. Os dois lados ao mesmo tempo. Com calma.
- Aquele homem! Entrou sem mais nem menos!
- É uma vergonha.
Smith - São bons rapazes, continuam nos seus postos.
Lightoller - Devagar, desçam-no. Um degrau. Cuidado com a saia. Muito bem. A seguir. A sua mão. Força. Cuidado. Dê-ma cá.
- Não quero ir.
- Por favor, tens de ir. Eu fico bem, querida. Não te preocupes.
George - O do outro lado já desceu.
Arthur - Este acabou de descer...
Uma mulher de terceira-classe, de quem não sei o nome, chegou de lenço na cabeça e perguntou ao oficial que baixava os botes:
- Já não há mais botes?
O oficial que dava instruções para baixar o bote virou-lhe a cara como resposta negativa, e continuou a gritar e a fazer sinais para baixar o bote. Então, a pobre mulher, revoltada, olhou para o oficial, depois para o bote que descia, e olhou de novo para o oficial e disse:
- Então não precisamos mais disto!
Tirou o colete, atirou-o para o chão e seguiu pelo convés em direcção à popa. Curiosamente voltaria a ver essa mesma mulher minutos mais tarde no extremo da popa a ajudar os passageiros que se tentavam salvar. Lembro-me dos muitos maridos que se viraram costas quando aquele barco desceu. As mulheres sem saberem do perigo de que ia, ser alvo os maridos, diziam-lhes adeus pensando voltar a vê-los daí a uma hora ou duas.
Pitman - Continuem a baixar. Devagar. Continuem.
Rowe - Foi o último foguete.
Capt. Smith - Porque não respondem? Malditos sejam! Estarão todos mortos? Será um navio fantasma? Nós vemo-los. Estão todos a dormir? Desligaram o rádio ou quê? Desista. Vá ajudar com os botes.
Descobriram que havia uma multidão junto das entradas dos portalós. Não se atreveram a passar junto ao navio porque se saltassem, fariam com que o bote se afundasse. Afastaram-se e remaram para longe até estarem a cerca de 400 metros do navio. Meu Deus.
Astor - Meus senhores, à vossa.
- Meus senhores, as bebidas são por conta da casa.
Astor - Eu pedia gelo, mas é ridículo.
Maud - Há mulheres ou crianças? Descemos os barcos, excepto dois pequenos.
Capt. Smith - Despache-se!
Carl - Está fechada! Não podemos sair. Voltem para trás!
Wild - Para trás. Somente mulheres e crianças aqui. Mais uma mulher e criança. Eu disse para andarem, por favor.
O mar estava muito calmo, quando abandonaram o navio. Todas as luzes estavam acesas e víam que ele se afundava. Víam que a proa estava demasiado mergulhada na água. O salva-vidas afastou-se do navio e a minha mãe contou-me que quase não se falava mas que passaram a noite a despejar água porque, por qualquer razão, o salva-vidas não tinha a válvula que devia ter, por isso elas foram obrigadas a despejar a água. Quando ela estava no salva-vidas, sim, ela disse que o salva-vidas estava a vazar. E foi só quando estavam no salva-vidas a afastarem-se a remos que perceberam que o navio se ia afundar só aí se aperceberam. A minha mãe dizia que ninguém falou durante a viagem no salva-vidas, todos estavam chocados, muito chocados. O casco do Titanic ficou a brilhar com luzes e parecia que tinha iluminado todo o oceano e só quando começou a afundar-se é que conseguiu ver a escuridão do oceano. O que foi muito... doloroso. Afastaram-se do Titanic o mais depressa que podiam. Haviam cinco a seis convéses cheios de pessoas ali à beira a olhar. Julgo que desejavam e ansiavam que alguém nos viesse salvar. Quando estavam já a cerca de uma milha, o navio era maravilhoso, estava escuríssimo, noite de breu. E o oceano estava muito calmo, como um lago. Era como se fossem dar um passeio de barco. Depois de esses poucos barcos partirem, podem imaginar o pânico das 1500 pessoas que foram deixadas para trás, bem, impossível de imaginar. Lembro-me de presencear cada momento. O pensamento mais terrível que guardo na minha mente é de ver aquele navio afundar-se, eu estava a ver, foi uma coisa aterradora. Murdoch - Ponham os remos em posição. Alto! Preparem os canivetes! Prendam as pontas!
Capt. Smith - Muito bem, rapazes, penso que agora é cada um por si.
Tornámo-nos sérios quando vemos tamanha tragédia. Parece que ainda oiço os gritos de socorro. E alguns foram abatidos a tiro, quando tentavam chegar aos botes. Murdoch - Parem de empurrar! Para trás! Para trás!
Edward - Dê-nos a possibilidade de sobreviver, seu sacana!
Murdoch - Abato qualquer homem que tente passar por mim!
Edward - Sacana!
Murdoch - Sr. Wild, embarque-os depressa. Aonde julgam que vão? Para trás!
Edward - O nosso bote?
Murdoch - Não podem vir neste, está cheio! Para trás!
Edward - E os outros rapazes?
Murdoch - Este bote está cheio, recuem. O homem que tentar passar apanha... Para trás!
Wild - Sr. Murdoch.
Murdoch - Só mulheres e crianças. Mato o próximo que se mexer!
Edward - Não! Matou-o!
Murdoch - Meus senhores, agora é cada um por si.
Murdoch matou-se em seguida com um tiro na cabeça.
Wild - Não, Will! Para trás, malditos sejam! Meu Deus, porque nos abandonaste?
A água estava muito perto do convés. Havia uma grande subida para a popa e não sei como o pobre Phillips conseguia. De repente, senti por ele grande admiração ao vê-lo ali agarrado ao trabalho enquanto os outros se enraiveciam. Nunca hei-de esquecer o trabalho que o Phillips fez nos últimos 15 minutos. Depois, ouviu-se a voz do comandante:
Capt. Smith - Meus senhores, já cumpriram bem o vosso dever e não podem fazer mais nada. Abandonem as cabinas. Estão dispensados. É assim nestas alturas. Salve-se quem puder. Agora cada homem tem de tratar de si. Salvem-se.
Phillips - Vamos já.
Capt. Smith - Safem-se como puderem. Liberto-os das vossas funções. Numa altura destas, as coisas são assim... Bem, rapazes, cada um por si.
Bride - Ele tem razão, Phillips. A energia está no fim. Estás a falar sózinho. Hoje é que vamos ver o mundo. Dizem que três quartos são água. O convés está afundando. Vamos deixa isso ai. já cumprimos o nosso dever. Vem, ou vamos comer areia no café da manhã.
Phillips - Eu não vou.
Bride - Estás louco. Um fogueiro tenta roubar o colete de Phillips.
Bride - Mataste-o!
Phillips - Não merecia morrer como um marinheiro. Vamos.
Lightoller - Devagar, devagar. Calma.
Capt. Smith - Muito bem, rapazes, façam o que puderem pelas mulheres e crianças,e não se esqueçam de vocês próprios.
George - Comandante!
Capt. Smith - Ainda aqui estão? E esta criança?
Richard - Eu vou num salva-vidas.
George - Vou agora metê-lo num bote com alguém de confiança.
Capt. Smith - Já não há botes.
John - Meu Deus.
George - Não há nem uma jangada insuflável? Tem de nos ajudar.
Capt. Smith - Sinto muito. Não posso fazer nada. Cumpriram o vosso dever, rapazes. Agora, é cada homem por si.
Camille - Mandaram-nos esperar perto do navio para recolher os sobreviventes.
Lowe - Quando se afundar leva tudo atrás.
Camille - Aquela gente toda... Ainda há espaço neste bote.
Lowe - Prometo-lhe que voltaremos atrás. É só esperar que tudo acalme. Centenas de pessoas tentarão subir para este bote e ninguém se salvará.
Camille - Não podemos abandonar aquela gente.
O meu tio estava no convés com o meu tio e o meu avô, com uma taça de brandy na mão. Colocou a taça no corrimão e descalçou uma luva branca onde colocou algumas jóias e dinheiro e atirou ao oceano. O significado deste gesto é imcomparável. Ali se mostrou que ricos e pobres, todos eram iguais aos olhos de Deus. Saimos dali em direcção à popa. Richard - Esperem, esperem! Sr. Andrews!
Andrews - Richard...
Richard - Sr. Andrews, não vai fazer uma tentativa? Não vai tentar salvar-se?
Andrews - Lamento não ter construído um navio mais forte, jovem Richard.
Richard - Tem de se salvar. Haverá perguntas que mais ninguém saberá responder.
Andrews - É capaz de ser uma idéia a considerar.
Arthur - Está a afundar-se rapidamente. Temos de nos despachar.
Andrews - Espere. Boa sorte para si, Richard.
Richard - Para si também. Não se demore muito.
Andrews - Você também não. Vá. - Sr. Guggenheim? São para si.
Guggenheim - Não, obrigado. Vestimo-nos da melhor maneira. Estamos com o nosso melhor traje e esperamos afundar-nos como cavalheiros. Mas gostariámos de um Brandy.
Astor - Estou à procura do raio do meu cachorro.
Guggenheim - John.
Guggenheim pediu-lhe um aperto de mão e o Sr. Astor aceitou.
Astor - Madeleine pediu-me para procurar o cachorro. Capt. Smith - É tudo meus senhores, o vosso comportamento foi exemplar. Portem-se como ingleses. Portem-se como ingleses...
Lightoller - Tragam as cordas! Estiquem-nas! Depois endireitamo-lo.
- Comandante. Para onde devo ir? Por favor.
- Comandante. Não vai tentar salvar-se?
Capt. Smith - Há uma frase muito citada nos jornais. "Nem Deus afunda este navio." Recebeu um nome apropriado. Os Titãs ousaram desafiar os deuses, e, devido à sua arrogancia foram precipitados no Tártaro. Perdoem-me.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei a frase do Capitão no final.

Com relação ao tiro do Murdoch, no livro "Maldição do Titanic", fala-se sobre isso, No livro o espirito dele aparece com uma perfuração a bala.

Muito interessante o post de hoje, e também um dos maiores até então.

Mais uma vez, meus parabéns.