segunda-feira, abril 03, 2006

TITANIC
Depois os dinamos deixaram de funcionar, tinham aguentado a iluminação todo aquele tempo.
Bell - Desliguem os interruptores!
Dava para ver as hélices e tudo o mais. O leme estava totalmente fora de água e as luzes se apagaram. Estes pobres passageiros, cerca de 500, estavam agora na escuridão. Arrastavam-se e direcção à popa, o convés já estava demasiado escorregadio e não podiam rastejar mais. Ficaram ali a formar pequenos grupos como se fossem enxames de abelhas. Pouco depois ouviu-se um barulho, vindo debaixo de água, foi um estrondo tremendo de algo a partir-se, como o som de uma explosão. Era o Titanic que realmente se tinha partido em dois, entre a terceira e a quarta chaminé. Mas o majestoso Titanic era agora um navio partido. Foi um momento muito difícil de enfrentar para toda a gente. Enquanto estava deitado sobre a amurada eu pude ver o navio partir-se em dois. Houve uma chuva de destroços e um grande pedaço de madeira caiu em cima de mim atingindo o meu colete salva-vidas. Os gritos nesta altura foram aterradores! As luzes foram-se apagando enquanto o navio se partia em dois. Foi aquilo que vimos. E então o navio foi abaixo e a popa começou a se elevar. O meu tio caiu ao mar com o impacto.
George - John! Tenho de sair daqui!
Arthur - Temos de nos despachar!
George - Vamos saltar!
E subia cada vez mais.
George - É agora! O meu pai largou-se e embateu na água com toda a força. Felizmente não bateu em nada. Depois olhou para o Titanic e viu a enorme popa que subia em direcção ao céu.
Arthur - Eu puxo-te! Dá-me a mão! Agarrei-te. Não te largo. Agarrei-te.
Só aí ele percebeu que nem eu nem o meu avô tinhamos saltado a tempo e que ainda estavamos a bordo. Então ele nadou em direcção ao meu tio John. John - Estou arrumado.
George - John! John!
Ismay - Não sou capaz de ver mais.
Richard - O que se passa, avô?
Arthur - Não sei! Eu não sei!
O Titanic estava agora na perpendicular. Toda a parte da ré, da terceira chaminé para trás, estava apontada ao céu, as três enormes hélices molhadas brilhavam, apesar da escuridão. Era um barulho sinistro, a popa negra suspensa a 90 graus, contra um fundo de estrelas. Assisti aquele horror e mantenho desde aquela noite até hoje que o navio se partiu ao meio quando se afundou. Estou convicto disso. Sei que é verdade. Este barulho terrível, vinha da parte da frente do navio que se tinha afundado, primeiro foi logo a proa e a outra metade tinha ficado toda no ar e depois virou a quilha para cima. As hélices estavam fora de água. O leme estava no ar. Perguntei a mim próprio como cheguei ali. Como me encontrei naquela situação a passar por aquela experiência? Saiu da água assim sem mais nem menos para depois se afundar no mar... Quando as pessoas caíam, eu punha as mãos na cara para não ver todo aquele aparato... Um horror. Francamente horroroso. Arthur - Aguenta!
- Oh Meu Deus! Ajudem-me, por favor! Alguém me ajude, por favor!
- Socorro!
Passaram dois minutos, o barulho parou, e a popa do Titanic baixou ligeiramente. Depois, a própria popa acabou por se afundar lentamente com uma inclinação acentuada. Nessa altura, muitos disseram que o navio ficaria a flutuar. A popa ficaria à tona de água e seria o seu próprio salva-vidas.
Aqueles que não desapareceram logo debaixo de água começaram instintivamente a tentar agarrar-se aquela parte do convés que continuava fora de água. Era apenas o adiar do mergulho, o que vinha diminuir ainda as esparsas hipóteses de alguém ficar à tona de água. Mas apesar de ter ficado a flutuar durante alguns instantes, foi também inundada e pouco a pouco acabou por se afundar. Via-se o fundo do navio e então, lentamente, ele deslizou para dentro de água e foi o fim do Titanic.
George - John. Estás bem?
John - Não sinto as pernas.
O padeiro Joughim ajustou calmamente o colete de salvação. Olhou para o relógio, tirou-o e guardou-o na algibeira e olhou para mim. Comecei a ficar confuso com a situação em que me encontrava, quando senti a popa a começar a fugir-me dos pés.
Richard - É agora!
Pareceu aumentar de velocidade à medida que ia mergulhando. Era como estar num elevador a descer. Richard - Meu Deus, avô! Meu Deus... Oh Deus.
George - Meu Deus, está a afundar-se! Está ali um bote! Vamos lá! Força, John.
O bote da minha mãe não se tinha afastado o suficiente.
- Está ali alguém na água.
Camille - George! Oh Deus, George! Segura a minha mão.
George - Camille. Puxa-o. O John! Está ferido.
Camille - George, o Richard onde está?
George - Está com o avô... no navio. Vamos lá John, faz um esforço, sobe.
Camille - Vá lá, John.
George - Meu Deus...
Camille - Animo, George, nada! Nada, depressa! Estás sendo puxado pela sucção! Oh Deus!
Lowe - Remem , depressa!
Camille - Não, espere! George, não me largues a mão! Força!
Arthur - Segura-te! O navio vai sugar-nos! Respira fundo!
Os passageiros que estavam na popa só tiveram tempo de se agarrarem à amurada e quando a água subiu tiveram de nadar e fizeram-no sem sequer molharem a cabeça.
Arthur - Bate os pés para vires ao de cima, com força! Não me largues. Segura no meu colete! Vamos escapar desta.
Richard - Sim.
Arthur - Prepara-te... Agora!
Camille - George! George! Não! Quando o mar estava prestes a cobrir a popa, entramos na água. Quando a água cobriu o mastro da bandeira da popa, a velocidade era suficiente para criar um vórtice. E vimo-lo afundar-se. Hitchens - Afundou-se!
Harriett - Acabou-se, foi o fim dele.
Margaret - Foi-se!
Lowe - São 2h20. Perdi-me do meu avô. Eu tentava nadar. Estavam ali muitos homens à minha volta e... um cachorro! Havia apenas uma coisa a fazer, mergulhei. Submergi. Entrar na água era como se mil navalhas se cravassem no meu corpo, a água estava gélida. Quatro graus abaixo da temperatura de congelação. Muito frio, terrivelmente frio, muito frio, que nem gelo. Após ter submergido, subitamente fiquei preso num monte de cabos, mas eu consegui afastar-me deles. Depois nadei 15 ou 20 minutos quando de repente vi algo à minha frente, era um dos salva-vidas. O bote B que estava virado ao contrário. O meu pai estava lá, na água agarrado ao bote eu reconheci-o logo, isso deu-me animo.
Ricahrd - Pai! Pai!
George - Richard! Agarra-te. Vai para cima. Vamos. Fica aí em cima.
Lightoller - Não abane o barco. Dê-mo cá. Mais um e vamos ao fundo.
- Socorro!
George - Isto não aguenta mais ninguém. O nosso peso vai afundá-lo!
- Deixe-me ao menos tentar ou vou morrer logo.
George - Vai morrer mais depressa ainda se chegar mais perto.
- Sim. Entendo. Boa sorte para vocês. Que Deus os abençoe.
George - Continua a mexer-te, Richard. Não pares. Vai correr tudo bem. Está tudo bem!
Bride - Não vires o bote.
- Salvem uma vida! Salvem uma vida!
Wild - Voltem com os botes!
George - Os botes vêm buscar-nos. Aguenta mais um pouco. Tiveram de se afastar por causa da sucção mas vão voltar.
- Por amor de Deus!
- Por favor... ajudem-nos! Lady Gordon - Lá perdeste o teu belo vestido de dormir.
Pusey - Deviamos fazer alguma coisa!
Sir Cosmo - Está fora de questão!
Pusey - Não se preocupe, vocês salvaram as vossas vidas, mas nós perdemos a caixa de ferramentas. Suponho que perdeu tudo?
Sir Cosmo - Pois perdi.
Pusey - Mas pode voltar a comprar tudo?
Sir Gordon - Sim.
Pusey - Pois é, mas nós perdemos as ferramentas e a companhia não nos dá outras. Pior que isso, deixamos de ser pagos a partir desta noite.
Sir Cosmo - Muito bem, dou uma nota de cinco a cada um para arranjarem novas ferramentas.
Lightoller - Aguenta-te, meu velho. Mais um e manda-nos a todos para o fundo.
- Está bem, rapazes, tenham calma. Boa sorte, Deus vos abençoe.
- Bons rapazes, amigos!
Por sobre a sepultura do Titanic pairava uma nuvém fina de vapor que manchava a noite clara. O mar chão estava cheio de caixas, cadeiras de convés, pranchas, pilastras e pedaços de cortiça que saltavam da água como rolhas vindas de um ponto qualquer do fundo do mar. De repente escutei gritos por socorro que pareciam durar uma eternidade. A água era agitada por centenas de nadadores que se agarravam aos detritos e aos companheiros. Ouvimos o barulho das pessoas a ir ao fundo que, para mim, foi o maior horror de todos. E ouvimos os gritos. Não podíamos fazer nada. E os gritos continuaram durante bastante tempo. O horror do som das pessoas a afogarem-se é algo impossível de descrever, não cnsigo descrever, nem você consegue, nem ninguém consegue, é o barulho mais aterrador e depois segue-se um silêncio terrível. Ouvia-se as pessoas a gritar. É um som terrível. A minha mãe disse-me que depois quando o navio desapareceu fez-se um silêncio fantasmagórico. Foram estas as suas palavras, um silêncio fantasmagórico. Quando o navio desapareceu, as luzes desapareceram também e a noite escura rodeava-nos e todos aqueles barulhos aterradores deixaram-se de se ouvir. Eu só tinha doze anos mas lembro-me de pensar que o resto do mundo estava exactamente na mesma. Recordo-me de falar à minha mãe, algum tempo depois, acerca dos gritos estridentes daquelas pessoas e ela disse-me:«Sim, mas lembras-te do silêncio que se seguiu?» E lembro-me. O silêncio é algo que prezo muito. Porque me lembro de um mundo inteiro e de uma noite estrelada, e dos gritos estridentes dos que se afogavam. Acho que isso foi o pior de tudo. E depois um silêncio indescritível. O silêncio que se seguiu parecia durar horas. Margaret - Temos de voltar lá e ajudá-los!
Hitchens - Não! Puxam-nos com eles.
Margaret - Tome conta do remo.
Hitchens - Não compreende. Se voltarmos, afundam o bote. Puxam-nos para o fundo.
Margaret - Pare com isso. Está a assustar-me! Meninas, agarrem nos remos.
Hitchens - Está louca? Estamos no meio do Atlântico Norte! Querem viver ou querem morrer?
Margaret - Não vos percebo. Que se passa convosco? Os vossos maridos estão ali. Há muito espaço.
HItchens - Haverá uma pessoa a menos aqui se não calar essa boca! Eu é que mando aqui! Sente-se!
- E eu pergunto, não percebe que está a falar com uma senhora? Está a falar com uma senhora!
Hitchens - Eu sei com quem estou a falar, e sou eu quem manda neste barco.
Margaret - Cobarde! - Tome, pegue essa corda.
Camille - Sim.
Lowe - Devemos voltar? Há que decidir se voltamos lá para recolher pessoas.
Camille - Sim. Temos de voltar agora antes que morram todos, ouve? Temos de voltar atrás!
Lowe - Está bem, vamos. Levem os remos para lá. Juntem esses dois botes. Vejam se estão bem amarrados. Ouçam homens. Considerem-se sob o meu comando. Temos de voltar. Quero transferir as mulheres deste bote para aquele bote. O mais depressa possível. Arranjem espaço ali. Para frente e para fora. Não tão rápido, senhora. Como ousa? Entre aí, entendeu? Venha por aqui, senhora. Salte, cós diabos, salte! Agora vamos remar depressa em direcção aos náufragos! Harriett - Peça ao oficial para não voltarmos para trás.
Count. Rothes - Que interessa morrermos todos na tentativa vã de salvar outros?
Não podíamos ajudar ninguém. Tinhamos imensas pessoas no bote. Não podíamos ajudar ninguém. E estavamos todos de pé. O nosso bote não aguentava mais ninguém. Por isso remámos para longe o mais depressa que pudemos.
Bride - Alguém viu o Jack Phillips, o operador de rádio?
Joughim - Temos de remar para longe antes que nos puxepara baixo! Para trás!
Lightoller - Pare, ainda nos afunda.
Joughim - Sim, senhor Lightoller.
Lightoller - Conservem o sangue-frio. Distribuam o peso. A carga também. Segure-se bem.
O meu pai nem sequer tentou subir, ficou agarrado a mim a nadar enquanto eu estava sentado no bote.
Camille - George Barks, estás aí? Quem é? Está alguém na água!
Boxhall - Estão todos à nossa volta. Se recolhermos um, vêm todos. Já temos gente a mais. Afundamo-nos.
Camille - E eu o que é que faço?
Harriett - Temos de obedecer às ordens do oficial.
Música: Chung Kuo - Álbum: Themes - Compositor: Vangelis.

http://www.flamesky.com/music/online.asp?id=7631

Amanhã é o final de TITANIC!

1 comentário:

Anónimo disse...

Nossa coitado do pequeno Richard e do George também.
Muito triste essa parte da história, apesar de sabermos que deve ter sido assim, ou talvez um pouquinho pior.
Parabéns pela bela história.