sábado, abril 08, 2006

TITANIC
Californian Meia-Noite
Gibson - Parece cansado.
Evans - O turno não foi dos piores.
Gibson - Que tem para aí?
Evans - Só o Titanic, a mandar uma data de mensagens para Cabo Race.
Gibson - É capaz de ser interessante. Importa-se que oiça?
Evans - À vontade. Que tal vai o Morse?
Gibson - Ando a ter lições. Às vezes percebo qualquer coisa.
Evans - Até amanhã.
Titanic 00h15
Capt. Smith - Preparem-se para pedir socorro. Embatemos num icebergue. As cordenadas.
Phillips - Que sinal envio?
Capt. Smith - O sinal de socorro internacional. CQD.
Phillips - CQD? Comandante?
Capt. Smith - Exactamente. Um CQD, o sinal de socorro. É essa a nossa posição. Diga a quem responder que estamos a afundar-nos e precisamos de ajuda urgente. Venham imediatamente, perigo. Só isso.
Phillips - Com a breca!
Bride - Não queria ser o Comandante quando disser aos Astor e aos outros ricaços que vão chegar uma semana mais tarde a Nova Iorque.
Phillips começou a enviar a mensagem. Começou a ficar vermelho e riram dele por isso. Nenhum deles ligou ao desastre, agradava o ridículo da situação. Bride rematou com um comentário que os fez rir a todos incluindo o Comandante.
Bride - Talvez devessemos tentar o novo pedido de socorro. SOS.
Disse ele
Bride - Pode ser a nossa última oportunidade de o enviar.
Capt. Smith - Enviem o pedido de socorro.
Phillips - Sim, imediatamente.
Californian
Gibson - Foi-se abaixo.
Evans - Agora estou cansado, trato disso amanhã quando tiver mais forças.
Titanic
Boxhall voltou para o convés, viu o comandante e disse-lhe:
Boxhall - A sala de correio está a meter água. Envio um pedido de socorro?
E o comandante respondeu:
Capt. Smith - Ja enviei um pedido de socorro.
O 4º Oficial Boxhall abriu a porta do 2º Oficial Lightoller e vendo-o acordado disse:
Boxhall - Nós embatemos contra um icebergue.
E depois acrescentou:
Boxhall - A água vai até ao convés F na sala do correio.
Ele vestiu-se e foi ajudar nos botes. O meu pai embrulhou-me num cobertor e fomos para o convés com a minha mãe. Ele pôs-lhe um casaco grosso sobre os ombros e vestiu outro, sem proferir palavra. Saímos do camarote entrámos no elevador e fomos para junto dos botes. Não pusemos os coletes salva-vidas, não tivemos tempo para isso. O Titanic permanecia tranquilo à superfície do oceano, imóvel, parado. No convés, muitos metros acima da água que marulhava suavemente contra os lados do navio, dava a maravilhosa sensação de firmeza e calma, era como estar numa rocha enorme no meio do oceano. Fomos mandados para dentro, estava mortalmente frio.
Wild - Enrolem o oleado. Não o emaranhe nas cordas. Isto não é uma brincadeira. Não sabe fazer isso? Continuem a descer! Devagar. Mantenham-no esticado. E desenrolem o molinete! Soltem esses nós! Enrolem essa cobertura! Depressa!
Andrwes - Sr. Wild? Onde estão os passageiros?
Wild - Foram para dentro. Está muito frio e barulho para eles. Vocês aí! Venham ajudar com estas cordas!
Barrett - Mãos à obra! Raios!
- Deseja uma bebida?
Harry - Disseram-me que as malas andam a flutuar pelo porão, melhor seria que a senhora também fosse para o convés.
Arthur - Ainda podemos aguentar a águra durante um tempo.
John - Vamos de elevador.
George - É só descer um andar.
John - Há qualquer coisa esquisita.
George - O quê?
John - Nas escadas. Não sentes? Inclinam-se para a frente do navio. Não pode ser, o barco está a inclinar-se! Isto não devia acontecer! O mar está perfeitamente calmo e o barco parou! Que causará isto?
George - Não sei. Não noto. Este barco não se afunda.
Descemos as escadas e chegamos a esta enorme sala. Estava cheia de mulheres, com todo o tipo de vestuário sem estarem vestidas, estavam a chorar, estavam assustadas porque não sabiam o que ia acontecer. Madeiras preciosas, estuques, espelhos, cristais, sumptuosas peles e ricas telas faziam dos salões do Titanic locais de encontro perfeitos para os passageiros de primeira-classe, que se podiam movimentar à vontade entre os objectos que lhes eram familiares e que consideravam indispensáveis para viver bem. O salão de primeira-classe tinha janelas que abriam directamente para a coberta dos botes, outra concessão ao luxo que imperava a bordo do Titanic.
Margaret - Jovem, o que há? Fazem-nos vir para aqui todos espartilhados e ficamos a gelar. Digam-nos o que querem de nós. As pessoas estão nervosas por não saberem de nada.
Ray - Lamento, minha senhora. Vou tentar saber o que há.
David - Isto é ridículo.
Margaret - Ninguém sabe o que se passa.
Camille - Dê-me a menina, Dorothy.
George - Senhor Andrews. Posso dar-lhe uma palavrinha? Eu vi o icebergue. Por favor, diga-me a verdade. Qual é a nossa situação? Julga que o navio sofreu estragos graves?
Andrews - Lamento, mas é verdade. O rombo foi grave.
George - A que ponto?
Andrews - O navio vai afundar-se.
George - Tem a certeza?
Andrews - Dentro de mais ou menos uma hora, tudo isto estará no fundo do Atlântico. Por motivos óbvios, esta informação não deve ser divulgada. Por favor, conte apenas a quem tiver de ser. Não quero pânico. E vá para um salva-vidas depressa. Não espere. O navio tem uma hora.
George - Vêm navios de salvamento a caminho?
nadrews - Ainda não conseguimos contactar nenhuma embarcação próxima de nós. É imprescindível pormos as mulheres e as crianças nos salva-vidas. Lembra-se do que lhe disse sobre os salva-vidas? Não fizemos o exercício. Só temos salva-vidas para metade das pessoas a bordo.
George - Compreendo. Obrigado pela sua sinceridade. Boa sorte.
Andrews - Para si também.
Edward - Levantem-se rapazes, estamos a ir para o fundo!
Carl - Acordem todos os homens! Não fica aqui ninguém.
Diamond - Está uma multidão junto do gabinete do fiel de segunda-classe.
T. King - Vá, vamos lá.
Havia imensa gente de um lado para o outro. Era apenas meia-noite e as pessoas ainda estavam a divertir-se.
Jim - A maldita sala do correio está inundada.
Iago - Isto está mesmo mau, Jim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Há cada dia tá excelente a sua história, mesmo conhecendo-a, fico com o coração na mão ao ler a sua.
PARABÉNS!!!!